sábado, 27 de novembro de 2010

Zapatero e os 37

A quem recorrer quando já não há novas ideias para sair da crise econômica? Aos maiores empresários do país, naturalmente.
Essa é a nova aposta do presidente espanhol, o socialista José Luis Rodríguez Zapatero, tradicional defensor da separação entre Estado e mercado. Em meio à crise do Euro que ameaça ter na Espanha a próxima vítima, ele se reuniu neste sábado com representantes das 37 maiores empresas do país para discutir soluções para a crise que não mostra sinais de deixar a Espanha tão cedo.
São nomes como Telefónica, Iberia, Santander, BBVA, Inditex (a dona da poderosa loja de roupas Zara), Corte Inglés (a mega cadeia de enormes lojas de departamentos espalhadas pelo país), Repsol, Sol Meliá e a seguradora Mapfre. Juntas, concentram nada menos que 40% do PIB espanhol - algo em torno de 500 milhões de euros. Empregam cerca de um milhão de pessoas, um número nada desprezível em um país com mais de quatro milhões de desempregados.
Foi o primeiro grande encontro de Zapatero - que sempre procurou manter distância do mercado espanhol - com os empresários do país. Na reunião, que durou quatro horas, o presidente prometeu acelerar suas reformas liberais e garantiu estabilidade econômica, em um momento de forte dúvida dos mercados com a economia do país, depois de a Irlanda quase afundar.
O presidente, que passou os últimos dias tentando acalmar os mercados, parece ter encontrado nos empresários sua âncora.

domingo, 7 de novembro de 2010

Beijo gay e protestos recebem papa na Espanha


Um beijo coletivo de 500 casais gays foi a maneira com a qual a Espanha recebeu o papa Bento XVI em sua visita ao país neste fim de semana.
Mas não foi só o beijaço que esperava Joseph Ratzinger. O papa encontrou também uma Espanha bem menos católica que da última vez que pisou por aqui, em 2006. Os católicos ainda são maioria: 73%, segundo o Centro de Investigações Sociológicas. Mas encolheram cerca de 1,5% ao ano desde 2005.
O retrato desses números esteve nas ruas nos últimos dias, onde manifestantes protagonizaram uma série de atos para protestar contra a vinda do papa (incluindo o beijaço gay, que aconteceu na frente da igreja da Sagrada Família, em Barcelona, onde Bento XVI rezou missa. Criaram até uma plataforma, chamada "Eu não te espero", que reuniu nada menos que 60 organizações contra a visita do papa.
Eles criticaram o tratamento de chefe de Estado que dado a Joseph Ratzinger e, principalmente, os gastos do governo e da igreja católica espanhola com a visita, que chegam a 600 mil euros. Também exigem do papa uma posição com relação aos abusos sexuais dentro da igreja.
Protestos à parte, o papa aproveitou a visita para alfinetar as recentes políticas liberais do governo de José Luis Rodriguez Zapatero, principalmente a flexibilização do aborto e a permissão do casamento gay. Em seu discurso em Barcelona, Bento XVI pediu que a Espanha deixe de legislar pela legalização do aborto e proteja o casamento heterossexual.
Durante a missa, o papa também consagrou o templo da Sagrada Família como basílica. Projetado pelo arquiteto Antonio Gaudí, que dedicou os últimos 15 anos de sua vida exclusivamente ao projeto, a igreja começou a ser construída no fim do século XIX. Hoje, é a marca da cidade de Barcelona, com seus traços modernos e disformes, característicos de Gaudí.
Atendendo à reivindicação de grupos nacionalistas da Catalunha, o papa rezou trechos da missa em catalão, revezando com o espanhol e o latim. Mas, como queriam os independentistas, não se manifestou sobre a autonomia da região.
Antes da missa, ele se reuniu em privado com os reis da Espanha em um encontro privado. No fim da tarde, no aeroporto, Bento XVI também se encontrou por 10 minutos com o chefe de governo, José Luis Rodríguez Zapatero, que não participou dos eventos oficiais do papa.
No sábado, em sua primeira parada no país, em Santiago de Compostela, o papa pediu diante de 200 mil pessoas que a Espanha renove a sua fé católica, numa estratégia para tentar segurar a queda de fieis no país.

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Zapatero faz dança das cadeiras com equipe ministerial

Poucos dias após conseguir aprovar o orçamento de 2011, o chefe do governo espanhol, José Luis Rodríguez Zapatero, anunciou nesta quarta-feira uma verdadeira dança das cadeiras na sua equipe ministerial. Seis ministros trocarão de pasta, e quatro deixarão o governo, em um movimento que está sendo interpretado como uma tentativa de Zapatero de reconquistar o apoio popular antes de terminar sua legislatura, no fim de 2011.
Com as mudanças, o novo homem forte de Zapatero será o ministro de Interior, Alfredo Pérez-Rubalcaba, responsável por assuntos como o combate ao grupo terrorista basco ETA. Ele vai acumular a pasta com a vice-presidência, substituindo a María Teresa Fernández de La Veja, que deixa o governo.
Outra substituição importante é a do ministro do Trabalho, Celestino Corbacho, que ficou conhecido como o ministro da crise, por assumir a pasta no momento em que a Espanha registrou recordes de desemprego. Ele já havia anunciado sua saída para concorrer ao governo da Catalunha. Será substituído por Valeriano Gomes, economista com boas relações com os sindicatos e que se declarou contra a reforma trabalhista de Zapatero que gerou protestos e uma greve geral no país depois de aprovada.
Além de Gomes, entra na equipe de Zapatero Leire Pajin, que hoje é secretária do PSOE, partido de Zapatero, e vira ministra de Saúde. Tida como a faceta jovem dos socialistas, ela substituirá a Trinidad Jiménez, que foi candidata derrotada de Zapatero nas primárias para o governo de Madri e passará ao Ministério de Assuntos Exteriores.
É nesta pasta que está uma das baixas mais importantes do governo, a do atual ministro Miguel Angel Moratinos. Moratinos conquistou protagonismo no governo ao assumir as funções da presidência espanhola da União Europeia, no primeiro semestre deste ano, além de liderar todos os temas diplomáticos do país.
Entre os poucos que continuam no mesmo posto, está a ministra de Defesa, Carmen Chacón, apontada como a próxima candidata do PSOE ao governo da Espanha. Para cortar gastos, os ministérios de Habitação e de Igualdade deixarão de existir.
Por causa da crise de popularidade, algumas mudanças já eram esperadas, mas a intensa remodelação anunciada por Zapatero surpreendeu até a oposição.
Em entrevista coletiva, Zapatero disse que se trata de um plano para dar mais impulso e energia na etapa final de seu governo.

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

"Dilma ganhou" para imprensa espanhola

"Dilma ganhou".
Esta foi uma das frases mais repetidas hoje pela imprensa espanhola, que vive um caso de amor com o Brasil e, mais especificamente, com Lula e sua candidata, sempre citada com o apodo de "ex-guerrillera".
Daí o destaque dado à "vitória" de Dilma Rousseff, o que na maioria dos casos apareceu na frente da informação sobre o segundo turno.
O "El País", um dos primeiros jornais do mundo a noticiar, no seu site, que a petista venceria mas teria que passar por um segundo turno, deu chamada de capa para matéria sobre "vitória insuficiente da candidata de Lula". Mas destacou que ela chegou mais perto de "fazer história e se converter na primeira mulher em ocupar a presidência do maior país da América Latina". Normal para um jornal cujo diretor anunciou, há alguns dias, que o Brasil é uma das duas prioridades do Grupo Prisa, que controla o "El País", em 2011.
Os canais de notícias, que ontem destacaram análises apontando que a nova classe média brasileira iria definir as eleições, passaram o dia repetindo a frase "Dilma ganhou", acompanhada de imagens da candidata votando e recebendo um beijo de Tarso Genro.
O jornal direitista "El Mundo" veio publicou na capa que "Dilma ganha no Brasil, mas deverá ir ao segundo turno com Serra"
Mas, ao longo do dia, os sites e telejornais começaram a prestar mais atenção no verdadeiro destaque desta eleição, os quase 20% de votos de Marina Silva.
De tarde, o "El País" colocou na capa do seu site uma foto grande de uma gargalhada de Marina, em cima da frase: "Silva, chave no futuro do Brasil".
Nas TVs, Marina, mostrada repetidamente fazendo o V da vitória após votar, foi exibida como "a nova terceira via do Brasil", segundo classificou reportagem do canal CNN+.
Para José Serra, sobrou pouco espaço.

quinta-feira, 30 de setembro de 2010

A greve da Espanha em fotos

Três meses depois da Copa do Mundo, os espanhóis voltaram a vestir-se de vermelho e a lotar a Plaza de Cibeles, em Madri. Mas, desta vez, para protestar, e não para comemorar. Tratava-se da principal manifestação da greve geral que aconteceu ontem no país.
Embora tenha conseguido paralisar boa parte dos ônibus, fábricas, comércio, coleta de lixo, a greve, que foi o principal assunto no país nas últimas semanas, acabou não colando tanto e mobilizou pouco a população.
Mas serviu para mostrar a ira dos espanhois com os recentes cortes sociais do governo esquerdista de José Luis Rodríguez Zapatero. Abaixo, alguns cliques que fiz da manifestação dessa raiva, em protesto que percorreu a Plaza de Cibeles (onde os espanhóis receberam a seleção ganhadora da Copa) até a Porta do Sol, principal ponto turístico da cidade:











segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Apático, Festival de Cinema de San Sebastián premia filme inglês

206 filmes, orçamento apertado pela crise, poucos aplausos e a presença estrelar de Julia Roberts. Assim foi o 58º Festival de Cinema de San Sebastián, no norte da Espanha, que terminou neste sábado com um certo clima de apatria entre os expectadores.
Contrariando expectativas, “Neds”, do inglês Peter Mullan, levou a Concha de Ouro -- a premiação máxima de San Sebastián. O filme, que aborda a violência sofrida por um estudante escocês na década de 1970, também saiu vencedor na categoria melhor ator, concedida ao protagonista Conor McCarron.
O prêmio de melhor diretor ficou com o chileno Raúl Ruiz, por “Mistérios de Lisboa”, longa de quase quatro horas que foi um dos poucos muito aplaudidos no festival.
Outro que também estava bem cotado, o catalão “Pa Negre”, de Agustín Villaronga, terminou vencedor na categoria melhor atriz, pela atuação da espanhola Nora Navas.
As produções catalães foram uma das marcas desta edição do festival. “Elisa K”, de Jordi Cadena y Judith Colell, ficou com o prêmio espacial do júri, pelo assunto que aborda -- um intenso mergulho psicológico na cabeça da protagonista, uma menina que é estuprada por um amigo do pai e só se lembra do episódio 14 anos depois.
E basco “Aita”, que arrancou pouquíssimos aplausos da plateia, garantiu a Concha de Prata de melhor fotografia.
As produções da América Latina também ganharam destaque no festival, que dedicou uma categoria de filmes só para cineastas da região. O mexicano “Abel”, primeiro longa de ficção do ator e diretor Diego Luna, o filme de abertura do festival, foi escolhido o melhor deles.
Prejudicado pela atual crise econômica espanhola -- houve cortes de patrocinadores e do próprio governo espanhol -- a edição deste ano do Festival de San Sebastián não conquistou os expectadores com os filmes apresentados. Na maioria das sessões oficiais, de filmes que concorriam aos prêmios principais, terminavam com aplausos pouco animadores. No anúncio das obras vencedoras, também houve poucos aplausos. Um dos pontos altos do festival aconteceu no último dia 20, quando a atriz americana Julia Roberts e o ator espanhol Javier Barden foram a San Sebastián lançar o filme “Comer, Rezar, Amar”, , do norte-americano Ryan Murphy, que protagonizam. No mesmo dia, Roberts recebeu o Prêmio Donostia do festival, que é concedido a cada edição para uma personalidade do cinema mundial.

quinta-feira, 9 de setembro de 2010

"Zapatero, dimisión"


Apesar de desagradar a aliados, oposição, sindicatos e até empresários, a reforma trabalhista do governo espanhol conseguiu aprovação definitiva no parlamento nesta quinta-feira. A reação imediata dos trabalhadores foi pedir, em coro, a demissão do chefe de governo José Luiz Rodriguez Zapatero.

Como na França, a reforma trabalhista de Zapatero desatou uma forte crise social na Espanha, culminando com o anúncio de uma greve geral, a primeira desde a reabertura democrática no país, no dia 29 de setembro.

Nesta quinta-feira, cerca de 16 mil trabalhadores que estavam reunidos em um encontro de sindicatos em Madri na mesma hora da votação da reforma, protestaram com fortes e duradouros gritos de “Zapatero, demissão”.

A forte rejeição à reforma está em medidas polêmicas como a flexibilização de contratos de trabalho e das demissões, isso em um contexto de uma Espanha que amarga o pior índice de desemprego da União Europeia, de quase 20% da população economicamente ativa.

Mesmo assim, a proposta conseguiu aprovação no Senado espanhol na manhã desta quinta-feira. Isso foi possível graças aos votos dos integrantes do Partido Socialista Espanhol, de Zapatero, que são maioria, e às abstenções dos membros do Partido Nacionalista Vasco, em troca de propostas suas incluídas na reforma.

Oposições da esquerda e da direita protestaram contra a aprovação. E, durante o ato dos trabalhadores nesta quinta-feira, o presidente do sindicato Comissões Obreiras, Candido Mendes, disse estar confiante de que a greve vai forçar o governo a rever os pontos do polêmico texto.

Com a reforma, as empresas poderão, por exemplo, demitir por justa causa funcionários que faltem a mais de 20% das jornadas de trabalho durante dois meses seguidos. Ou ainda só tornar fixos trabalhadores que estejam no mesmo posto, com contratos temporais, por nada menos que três anos. Ainda não há prazo para a entrada em vigor do texto, mas já é certo o alvoroço social que ela seguira causando na Espanha.

domingo, 5 de setembro de 2010

ETA anuncia cessar-fogo, mas governo não leva fé

ETA anuncia un alto el fuego en un vídeo difundido por la BBC



Depois de 51 anos de existência e de fazer 829 vítimas mortais, o grupo terrorista basco ETA anunciou neste domingo um cessar-fogo através de um vídeo. Apesar do anúncio, inédito na história do grupo, o governo e a oposição da Espanha consideraram a trégua insuficiente para iniciar um diálogo com os terroristas, que exigem a independência do País Basco, região no Norte da Espanha.
Logo após a divulgação o vídeo, feita na manhã deste domingo pela rede inglesa BBC, governo e oposição reagiram à notícia e disseram considerar o cessar-fogo insuficiente para iniciar qualquer tipo de diálogo com o ETA. O governo de José Luis Rodriguez Zapatero exige a desarticulação total dos terroristas e a entrega das armas do grupo.
No vídeo, divulgado na manhã deste domingo, três homens encapuzados aparecem em frente à câmera enquanto a voz de uma mulher anuncia o cessar-fogo. Afirma que o atentado mais recente do grupo, uma série de pequenas bombas que explodiram na ilha de Mallorca, no início de agosto, foi o último ataque terrorista do grupo. Por fim, o texto lido no vídeo diz que o grupo pretende iniciar um processo democrático para as negociações com o governo.
Mas, para analistas políticos espanhóis, que passaram o domingo avaliando o anúncio, o cessar-fogo não se trata de vontade real do grupo de largar a atividade terrorista, e sim uma tentativa desesperada de conseguir representação nas próximas eleições espanholas de outubro. Isso porque, no ano passado, os partidos políticos supostamente vinculados ao ETA, a chamada esquerda abertzale, foram considerados ilegais pela Justiça espanhola.
O ministro de Interior da Espanha, Alfredo Pérez-Rubalcaba, passou o domingo analisando o vídeo a portas fechadas junto com investigadores policiais dedicados exclusivamente a combater o ETA. No início da noite, o Ministério concluiu que o cessar fogo não cumpre as exigências que o governo vinha fazendo nas últimas semanas e, por isso, não haverá chance de legalização dos partidos supostamente veiculados ao ETA, assim como qualquer tipo de diálogo com o grupo.
Um dos argumentos é o de que o grupo não deixou claro quanto tempo durará a trégua ou se ela é permanente. Além disso, não mencionou se vai abandonar as armas, o que era uma exigência do governo para qualquer possibilidade de diálogo com o grupo.
Durante todo o dia, o anúncio do cessar-fogo do ETA foi o principal assunto na imprensa espanhola e até em redes sociais do país. Em comunicado oficial, Zapatero se disse “profundamente cético” com o anúncio.
Mas houve também reações mais conciliatórias. O ministro de Trabalho, Celestino Corbacho, pediu prudência a todos. E a esquerda do País Basco afirmou acreditar que o anúncio é um primeiro passo para uma trégua indefinida e um cenário de paz na região.
Este foi o terceiro anúncio de trégua anunciado pelo ETA ao longo de seus 51 anos de existência, mas o primeiro em que os terroristas falam em democracia e não determinam um período para o cessar-fogo.

terça-feira, 17 de agosto de 2010

Depois de um mês, ex-presos cubanos seguem em albergue


Mais três ex-presos cubanos chegaram nesta terça-feira a Madri, somando-se aos 20 que já estão aqui. A maioria segue hospedada em albergues e "centros de acolhida" com suas famílias e sem emprego, um forte indício da falta de preparo do governo espanhol para lidar com a acolhida de dissidentes políticos. A avaliação por aqui é que, ao mediar o acordo entre o governo cubano e a igreja católica para libertar presos políticos, a Espanha só estava de olho em retomar seu protagonismo europeu na América Latina.
Abaixo, segue matéria que fiz para a Rádio França Internacional, que pode ser escutada aqui:






Luisa Belchior, correspondente na Espanha.

(01:51)




 




 








Exilados cubanos chegam a Madri, em meio a críticas
Luisa Belchior, correspondente da RFI em Madri

Pouco mais de um mês após a chegada em Madri do primeiro grupo de dissidentes cubanos libertados pelo governo de Raúl Castro, mais três aterrissaram nesta terça-feira na capital espanhola. Os que já estão no país se queixam das más condições oferecidas pelo governo da Espanha.

Os dissidentes Efrán Fernandez, Regis Iglesias e Marcelo Cano chegaram nesta terça-feira a Madri, em companhia de 17 familiares no total. Com eles, já são 23 os ex-presos cubanos acolhidos pelo governo espanhol, a partir de um acordo fechado em junho entre a Igreja Católica e o governo de Raúl Castro. Pelo combinado, Cuba se compromete a libertar até o fim de setembro um total de 52 presos políticos, enquanto a Espanha garante recebê-los e sustentá-los durante os primeiros meses.

Na chegada no aeroporto, os cubanos acenaram e fizeram o "v da vitória" para as câmeras. Em seguida, foram levados para um hotel em Móstoles, na periferia da cidade, onde ficarão até que o governo espanhol consiga moradia para eles.

Começo difícil

Do primeiro grupo de dissidentes enviados a Madri, há mais de um mês, a maioria está até hoje à espera de casa e emprego fixo. Apenas cinco deles permanecem na capital espanhola, no mesmo albergue em que foram alojados quando chegaram. O resto foi enviado a outras cidades como Málaga, Valencia, Alicante, Gijón e Logroño.

O dissidente Omar Ruiz, que foi enviado à Málaga, contou hoje à reportagem da RFI que está alojado em um centro da Cruz Vermelha com a mulher e o filho de 12 anos. Disse que ainda não tem emprego e recebe do governo espanhol uma ajuda de custo de 103 euros mensais, cerca de 232 reais.

Apesar das dificuldades, ele afirmou que pretende permanecer na Espanha, ao contrário de outros de seus conterrâneos, que querem voltar à Cuba ou emigrar para os Estados Unidos, onde têm parentes.

O Ministério de Assuntos Exteriores da Espanha, responsável pela inserção dos cubanos na sociedade do país, afirmou que está buscando opções de moradia e trabalho para os dissidentes de acordo com o orçamento e a viabilidade de cada cidade.

Na próxima sexta-feira, outros três dissidentes serão enviados a Madri, somando assim a metade dos 52 presos políticos que o governo Raúl Castro se comprometeu a libertar.

quarta-feira, 11 de agosto de 2010

Cruzeiro da Disney resgata imigrantes em alto mar rumo à Espanha


Em agosto, as praias espanholas não são destino só dos turistas norte-europeus. O mês é também a época com o maior número de chegadas de barcos com imigrantes irregulares às costas do país. Quase diariamente, se anuncia por aqui a descoberta de uma nova "patera", como são chamadas as embarcações de madeira abarrotadas de pessoas, sobretudo africanos, rumo a praias do sul do país e das ilhas espanholas.
Na semana passada, um cruzeiro da Disney que passeava pelo mediterrâneo resgatou um grupo de 16 pessoas que estavam à deriva e, segundo a polícia espanhola, sofrendo de hipotermia e desidratação. Ontem, foi a vez da própria polícia descobrir duas embarcações, com 68 pessoas no total, que tentavam ancorar em uma praia perto de Granada, no sul da Espanha.
Quando resgatadas, essas pessoas, em maioria africanos subsaarianos que tentam entrar de forma ilegal na Espanha, são levadas a um centro de "acolhida" (que, na prática, é de detenção) ou enviados de volta, dependendo do acordo que a Espanha tenha com seus países de origem para devolução de imigrantes ilegais.
Apesar de esta não ser a principal via de entrada ilegal na Europa (os imigrantes que entram pelo aeroporto com vistos de turistas e permanecem no continente são maioria ganham de longe), as pateras ficaram associadas à figura dos imigrantes ilegais na Espanha.
Começaram a preencher jornais e noticiários a meados da década passada, e, desde então, continuam chegando às mesmas costas para as quais também "migram" os norte-europeus todos os verões.


Disney Magic. Resgataram sexta de madrugada. Estavam desidratados.

segunda-feira, 9 de agosto de 2010

Espanha homenageia polvo adivinho da Copa, que vira mania no país


Quase um mês após a conquista da Copa do Mundo, os espanhóis ainda não esqueceram o polvo Paul, que ficou famoso durante o mundial por acertar os resultados dos jogos. No domingo, o cefalópode da Alemanha foi homenageado na festa anual do polvo em O Carballiño, na região da Galícia, com escultura e título oficial de amigo da cidade.
A ideia inicial era que Paul participasse em carne e tentáculos da festa, na qual cerca de 70 mil pessoas vão degustar pratos à base de polvo, característicos da região. Nas últimas semanas, os organizadores do evento tentaram de tudo para trazê-lo a Espanha. Empresários do setor pesqueiro de O Carballiño, conhecida como a capital espanhola do polvo, ofereceram nada menos que 35 mil euros para comprar Paul - e garantiram não colocá-lo no fogão, mas exibi-lo em feiras e festas galegas.
Mesmo assim, os donos do aquário da cidade alemã de Oberhausem, onde vive o animal, refutaram a oferta, alegando que seria arriscado demais transportá-lo até a Espanha.
Mas o prefeito e o secretário de Turismo de Oberhausem foram à comemoração ontem para receber a homenagem e ainda fechar parcerias turísticas entre as duas cidades, segundo informou a prefeitura de O Carballiño.
Na semana passada, cozinheiros da cidade galega, animados com a possível vinda de Paul, anunciaram que entraram no Guiness, o livro dos recordes, por preparar o maior prato à base de polvo do mundo, pesando 100 quilos.
Mas não é só a cidade galega que está aproveitando a fama de Paul na Espanha. A inusitada aparição do polvo adivinho durante a Copa também tem rendido dividendos ao setor turístico do país. Em Madri, as principais lojas de lembranças e produtos típicos vendem camisetas com a imagem do polvo vestindo cores da bandeira espanhola. Pelas ruas da cidade, carros levam adesivos do animal com os dizeres: “o polvo Paul é espanhol”.
Também chegou às lojas uma imensa leva de bichos de pelúcia em forma do cefalópode, igual aos que os jogadores da seleção espanhola levavam nas mãos durante o desfile em carro aberto que fizeram em Madri após a vitória.
Exagero ou não, o fato é que, assim como as previsões de Paul, a “polvomania” acertou em cheio o mercado espanhol.

domingo, 1 de agosto de 2010

O mês de ouro do esporte espanhol


A Fúria, Alberto Contador, Rafa Nadal, Pau Gasol,...No mês de julho, a Espanha e os espanhóis deixaram de lado o pessimismo impulsionado pela crise econômica, pela confusão política e pela revolta social para celebrar os ótimos resultados que o país angariou no esporte nesses últimos 31 dias.
E não foram poucos: a bandeira espanhola sacudiu mais alto em pódios do futebol ao tênis, passando pelo motociclismo, o basquete, o atletismo, o ciclismo e er, a Fórmula 1.
Logo após Rafa Nadal reconquistar Wimbledom e seu posto de 1º do mundo, a seleção espanhola de futebol conquistou o mundial, mas não foi a única: os jogadores de basquete já tinham sobre o peito a medalha de ouro. Se alguém tinha alguma dúvida de que a Espanha estava no topo do mundo dos esportes, o tricampeonato de Alberto Contador no Tour de France e as vitória (legítima) do motociclista Jorge Lourenzo, (suada) da atleta Martha Dominguez e (controversa) de Fernando Alonso não deixaram dúvidas.

Também pela primeira vez em muito tempo - pelo menos desde a sequência de crises que vem abalando a confiança interna e externa do país - os espanhóis tiraram as bandeiras do armário para pendurá-las na porta de casa, vesti-las no corpo e sacudi-las pela janela do carro. Foi uma explosão de um nacionalismo adormecido desde que ficou estreitamente relacionado à ditadura franquista.

Desde o histórico 11 de julho em que Iker Casillas, Andrés Iniesta e companhia levaram pra casa, pela primeira vez, a Copa do Mundo, os meios de comunicação não param de exaltar o "ótimo momento do esporte espanhol", como classificou o jornal "El País" em editorial sobre o assunto. Hoje mesmo, em um programa especial na CNN espanhola, os comentaristas se lamentavam pelo fim de julho, "un mes para no olvidar".

quarta-feira, 28 de julho de 2010

Catalunha proíbe touradas

O Parlamento da Catalunha proibiu hoje a realização de touradas em todo o território da região, uma das principais do país. Se trata da segunda região a proibir esta que é, ainda, uma das marcas da Espanha mundo afora.
A medida, aprovada depois de árduos debates (mencionados aqui), é mais simbólica, já que, na prática, a tradição espanhola de esfaquear touros em praça pública já era pouco bem-vinda e pouco exercida numa Catalunha progressista e separatista. Além disso, a medida aprovada hoje só entrará em vigor a partir de 2012 - e os pró-touradas já prometeram muito barulho até lá para tentar reverter a proibição.
Mas o simbolismo da atitude dos 68 deputados catalães que aprovaram o veto - um pouco mais dos 55 que votaram contra - é forte: põe em confronto a nova Espanha, mais aberta ao mundo e a valores como a proteção dos animais, com a velha Espanha, muito apegada às suas tradições. Quem já foi a uma tourada em Sevilha, que tem a praça de touros mais famosa do país, com sessões que atraem uma poderosa elite em traje de gala e com ingressos que beiram os 500 euros, sabe que, se essa medida significa uma mudança, ela não será fácil.
A briga, que já começou nas primeiras horas após a sessão do Parlamento, promete ser boa. Oposição, associações, organizações não-governamentais, amantes da prática e até filósofos já entraram nela. Sinal de que muita discussão vem por aí.

domingo, 18 de julho de 2010

A semana do dissidentes cubanos em Madri


Madri é mesmo eclética. Um dia depois de receber os campeões da Copa, outro avião muito esperado aterrissou na cidade, mas, desta vez, trazendo dissidentes cubanos do governo de Raúl Castro à Espanha. Eram sete, e formavam a primeira leva dos 52 presos políticos que Castro concordou em libertar nos próximos quatro meses, em acordo com a igreja mediado pelo governo espanhol, que ofereceu o acolhimento dos ex-presos.
Ao longo da semana, outros dissidentes libertados foram aterrissando em Madri. Até agora são 11, mas na próxima terça-feira devem chegar mais nove.
Apesar de libertados, esses cubanos _que trouxeram a família a tiracolo_ têm reclamado bastante da rotina "tutelada" em Madri. Isso porque não sabem para onde vão _o governo espanhol enviará cada família a uma cidade distinta do país_, não sabem aonde trabalharão _tarefa difícil em um país com mais de 20% de desempregados_ e muito menos qual será seu status_ a Espanha quer dar-lhes a condição de imigrantes com "proteção subsidiada", mas os cubanos querem ser refugiados políticos.
Além disso, foi muito polêmica a hospedagem que o governo arrumou para os cubanos: um albergue de beira de estrada no meio de um polígono industrial em um dos subúrbios de Madri. Lá, eles foram alojados em quartos pequenos compostos de camas individuais e quatro lockers e banheiros compartilhados por andar.
No mais, a grande discussão por aqui tem sido se essa libertação representa de fato uma mudança no governo do Cuba em direção ao maior cumprimento dos direitos humanos _o que a maioria deles acha que não, ou se é simplesmente uma jogada de interesses tanto por parte da Espanha, que quer mostrar um protagonismo na Europa e na América Latina, quando da própria Cuba, interessada em abrandar bloqueios econômicos internacionais e, com isso, sua crise econômica.
Aqui, deixo o link para algumas matérias que fiz sobre o caso esta semana, relatando a chegada dos presos, o limbo que enfretam em Madri, os relatos da rotina na prisão, as críticas ao presidente Lula e até a confissão de que viam novela da Globo da prisão!

terça-feira, 13 de julho de 2010

A chegada da seleção em Madri

"Bem-vindos a uma Espanha mais feliz." A frase, numa grande faixa no aeroporto de Madri, foi a primeira homenagem que os campeões da Copa receberam na volta para a casa, onde tiveram tratamento de autoridade.
O time ganhou cumprimentos do rei Juan Carlos 1º e da família real, encontrou-se com o presidente José Luis Zapatero e foi ovacionado por mais de um milhão de pessoas, que bloquearam as principais ruas da capital.
A frase ainda resume como o título da Copa vem sendo usado como válvula de escape para a crise econômica, política e até social em que a Espanha está mergulhada.

"Esta vitória é um bálsamo durante um tempo. Permitirá que fiquemos mais contentes e unidos, ainda que dure só uma semana e as pessoas depois se lembrem de que têm que pagar a hipoteca ou buscar trabalho, como eu", disse o historiador Antonio Hernandez, 24, que está desempregado há seis meses.
Ontem, ele tirou "folga" para ver o desfile do time em Madri, em maratona que começou às 14h30, no horário local, e foi até a madrugada.
Após a chegada a Barajas, em avião da Iberia pintado de amarelo e vermelho, o time foi ao Palácio Real de Madri. Lá, como chefes de Estado, os atletas foram recebidos pela família real: o rei Juan Carlos 1º e a rainha Sofia em primeiro plano, seguidos dos príncipes e do resto da família. "Vocês são exemplo de esportividade, de comportamento", disse Juan Carlos.
Já Zapatero, que vive sua maior crise de popularidade, tentou capitalizar no Palácio de Moncloa. Ele ergueu a taça e pulou com a seleção, em cerimônia que, por ordem sua, foi vista por plateia composta só por funcionários públicos e seus familiares. Mas, no discurso, ouviu vaias e pedidos de "Vicente [del Bosque, técnico] presidente".
De terno e gravata, Del Bosque, conhecido por ser frio, sorria muito e acenava para a "plateia", termômetro para o que viria em seguida -a multidão, calculada pela polícia de Madri em pouco mais de um milhão de pessoas, que assistiu ao desfile em carro aberto da seleção.
Além das bandeiras e de bonecos do polvo Paul, o meia Iniesta, autor do gol do título, foi muito festejado. "Minha geração é descrente da seleção, mas neste ano surpreenderam, e Iniesta é exemplo disso", dizia, entre lágrimas, Estanislau Millan.
Desempregado, ele pôs mulher, filha e sobrinhos no carro e dirigiu mais de 500 km para ver o ídolo.
Tímido, Iniesta iniciou os festejos se escondendo. Depois de mais de quatro horas de desfile -encaradas pelos atletas com latas de cerveja- , a maratona acabou em show a céu aberto com a seleção no palco. E com Del Bosque, enfim, sem terno.

quarta-feira, 7 de julho de 2010

Começam hoje as corridas de touro mais famosas da Espanha


Milhares de pessoas na Espanha se vestem hoje de vermelho e branco. E não é (só) por causa do jogo de sua seleção, mas pelo início das festas de San Fermin, em Pamplona, aquela das famosas corridas de touros, que são soltos em ruas estreitas com multidões.
Até a manhã desta quarta-feira, o saldo da festa é de dois jovens feridos. Eles participavam da primeira sessão das corridas, que é considerada festa de interesse nacional na Espanha mas ganha cada vez mais opositores no país.
Neste ano, as corridas de Pamplona, que são as mais famosas do país e acontecem em "comemoração" ao dia de San Fermin, teve a segurança reforçada para evitar mortes causadas durante o evento, como o que ocorreu no ano passado, quando um espanhol morreu depois de ser corneado por um touro.

Os feridos deste ano, segundo os organizadores da festa, são um espanhol de 20 anos, que sofreu contusão ocular, e um australiano de 18 anos, internado com contusões múltiplas. O hospital de Navarra e da Virgen del Camino, onde estão internados, ainda não divulgou o estado de saúde.
As corridas de touro de Pamplona, que acontecem desta quarta-feira até o próximo dia 14 de julio, são acompanhadas de muitas festas nas ruas da cidade, que atraem milhares de pessoas de todo o mundo.
Muitas delas, segundo a organização do evento, participam da corrida de touros sem preparação e, por isso, acabam feridas. A prefeitura de Pamplona distribuiu este ano uma cartilla com recomendações de segurança, como não participar da corrida embriagado ou sem preparação, não encostar nos touros nem destraí-los com barulho. A cartilha admite que há “mortes ocasionais” na festa – até agora, foram 15.
Mas grupos contrários às corridas, que são cada vez mais numerosos na Espanha, afirmam que as mortes ocorrem por se tratar de uma prática antiquada. A ONG Peta, uma das mais ativas contra o movimento das corridas de touro, chama a tradição de “um resquício brutal de barbárie da sociedade espanhola”. Em um estudo, afirmou que cada família do país gasta em média 47 euros ao ano com impostos destinados a subvencionar festas com touros.

sábado, 3 de julho de 2010

Espanha entrega presidência da UE

Em meio a uma crise econômica, política e até social, a Espanha entregou nesta quarta-feira a presidência rotativa da União Europeia. Depois de seis meses no comando, que passa agora à Bélgica, o país ibérico contabiliza alguns erros e acertos desta que foi a sua quarta gestão à frente do bloco, a primeira depois da entrada em vigor do Tratado de Lisboa.
Um novo governo econômico para a União Europeia foi o principal legado da presidência espanhola, na avaliação que o ministro de Assuntos Exteriores do país, Miguel Angel Moratinos, fez ao entregar o balanço da gestão, na noite desta quarta-feira em Madri.
Mas o governo de José Luis Rodriguez Zapatero também deixou alguns buracos nesta gestão, que a imprensa do país classificou esta semana de “tormentosa”. Foi o caso do cancelamento das cúpulas com os Estados Unidos e com países do Oriente Médio, por não dar as bases para um acordo de paz na região. A Espanha também não conseguiu fazer com que seus sócios europeus decidissem sobre uma eventual reabertura do diálogo diplomático com Cuba, um dos objetivos desta gestão. Mas celebrou a volta das conversas para um acordo de livre comércio com o Mercosul.
A crise econômica, no entanto, foi a grande protagonista do turno espanhol à frente da União Europeia. Neste período, a economia da Grécia quase afundou e o euro passou pelas maiores perdas desde sua criação.
O secretario espanhol para a União Europeia, Diego López Garrido, reconheceu que contornar as turbulências europeias foi uma das maiores dificuldades. “Chegamos à beira do abismo, mas conseguimos com isso demonstrar a fortaleza da Europa”, disse Garrido na segunda-feira, após reunir-se com seus homólogos da Bélgica e Hungria. Os três países dividem um turno de um ano e meio da presidência do bloco.
No plano interno, o período também foi conturbado para o país, que conheceu sua pior taxa de desemprego desde a reabertura econômica, de mais de 20% da população economicamente ativa. Nas últimas semanas, enfrenta uma série de manifestações e greves – uma delas nesta quarta-feira, do metrô de Madri – por causa do plano de ajuste fiscal anunciado por Zapatero em maio. Se acalmou os mercados e os sócios europeus, o plano significou internamente o fim da chamada paz social que a Espanha conseguia manter até então.

terça-feira, 29 de junho de 2010

Metrô de Madri entra em greve e deixa mais de dois milhões sem transporte


O que fazer quando um transporte do qual dependem mais de dois milhões de pessoas pára totalmente?
Essa foi a pergunta que os moradores de Madrid - uma condição quase equivalente a de usuário de metrô - tentaram responder nesta terça-feira, quando o metrô da cidade parou completamente por causa de uma greve geral dos funcionários, ainda sem prazo para terminar.
"Madri sem metrô é como avançar na selva sem facão", cravou o "El País" em seu site. Durante todo o dia - e até depois da vitória da seleção espanhola contra Portugal - o assunto também dominou todos os telejornais, que transmitiam ao vivo entrevistas e mais entrevistas com passageiros indignados com a paralisação.
O fato é que o metrô de Madri não é só um meio de transporte. É quase uma entidade. Quase centenário, tem 294 estações, divididas em 13 linhas que cortam a cidade de cabo a rabo, e que ainda se ligam com as redes dos arredores (como aquela que foi alvo da Al-Qaeda em 2003). Por dia, passam pelos trilhos subterrâneos cerca de 2,2 milhões de pessoas, um terço de toda a população da cidade.
As consequências são as mais previsíveis: ônibus lotados, muito engarrafamento e filas para táxis e muita gente reclamando de chegar atrasado no trabalho (veja mais nesta reportagem da TVE). Viajantes que também contavam com o metrô para chegar ao aeroporto de Barajas - que tem uma estação própria - se queixavam de ter que gastar 40 euros em táxi ou ter perdido o voo.
A paralisação é o protesto de cerca de 4 mil dos 7.500 funcionários do metrô de Madri contra cortes de salários para diminuir o déficit astronômico da cidade, um dos maiores do país. A greve começou na segunda-feira, com a metade dos trens circulando, mas nesta terça-feira parou geral, e vai continuar assim até pelo menos amanhã.

domingo, 20 de junho de 2010

Dilma na Europa


É muito comum o pessoal que vem fazer viagem pela Europa percorrer um monte de países em poucos dias. Com a candidata do PT Dilma Rousseff não foi diferente. Em cinco dias, esteve em quatro países - entre eles a Espanha - onde conversou com três chefes de governo - entre eles o espanhol José Luis Rodriguez Zapatero - e um da Comissão Europeia. No mais, passeou (muito), ganhou presentes (de computador a garrafa de vinho), abraçou e beijou brasileiros em Lisboa e andou em carro de Embaixadas. Mesmo assim, no final, ela classificou a viagem de "extremamente produtiva".
Abaixo, nota que fiz para a Rádio França Internacional e, em seguida, esta para a Folha.





Luisa Belchior, correspondente da RFI em Madri

(01:04)


 

 







Lula não será meu ministro, diz Dilma a jornal espanhol
LUISA BELCHIOR
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, EM LISBOA
RANIER BRAGON
ENVIADO ESPECIAL A LISBOA
A candidata do PT à Presidência, Dilma Rousseff, afirmou em entrevista ao jornal espanhol "El País" deste sábado que não cogita nomear o presidente Luiz Inácio Lula da Silva como ministro se vencer as eleições. No entanto, Dilma, que se apresentou ainda como ministra da Casa Civil, fez questão de atrelar seu nome ao de Lula. Disse que tem sido "o braço esquerdo e direito" do presidente e que "o sucesso de Lula é o meu".
"Sou a ministra da Casa Civil. Sou quem coordena os ministros e os principais projetos de governo. Trabalhei intimamente com Lula nos últimos cinco anos e meio. Ele não será ministro se eu chegar ao governo, mas sempre estarei aberta a suas propostas", declarou a petista na entrevista, que o "El País" destacou na primeira página de sua edição deste sábado.
No mês passado, o jornal espanhol já havia dedicado uma página a um perfil da candidata, um pouco antes de publicar uma larga entrevista com o presidente Lula.
Na entrevista deste sábado, de uma página e meia, Dilma ressaltou a sua condição de possível primeira presidente mulher do Brasil, o que é um dos motes de sua campanha eleitoral. Ela disse que seguirá a política de Lula mas com "alma e coração de mulher".
Citada pela reportagem como "a protegida de Lula" e "ex-guerrilheira que sofreu tortura", ela Dilma falou ainda de política exterior, projetos para o meio ambiente e disse se diferenciar de seu principal adversário, o tucano José Serra, por ter um projeto de "crescimento sustentável" para o Brasil.
A candidata petista passou a sexta-feira em Madri, onde se encontrou com o primeiro-ministro espanhol José Luis Rodriguez Zapatero. Neste sábado, está em Lisboa, onde se encontrará com o premiê português José Sócrates.

terça-feira, 8 de junho de 2010

Espanha pára hoje contra redução de salários


A Espanha enfrenta hoje a primeira grande paralisação do funcionalismo público desde a reabertura democrática. Cerca de 2,5 milhões de funcionários em todas as regiões do país foram convocados para uma greve geral de 24 horas nesta terça-feira. Se trata de um protesto contra cortes salariais de até 5% anunciados pelo governo em maio, dentro de um plano de ajuste para encaixar a Espanha nos "moldes econômicos" da União Europeia.
Na manhã desta terçaa-feira, 75% dos convocados já aderiram à paralisação, segundo a União Geral dos Trabalhadores e Comissões Obreiras, os dois principais sindicatos do país e tradicionais aliados do chefe de governo espanhol, José Luis Rodriguez Zapatero. Na capital Madri, são cerca de 60% dos funcionários parados e, na comunidade de Ceuta, a adesão foi de 100%, segundo a União Geral dos Trabalhadores. Já a secretaria de Estado da Função Pública, Consuelo Rumi, disse na manhã desta terça-feira que a adesão é de apenas 15%.
Entre os setores que participam da paralisação, estão os sistemas de saúde, educação e penitenciário, a administração pública nacional e local, portos e autoridades aeroportuárias, portuárias e marítimas e o banco central espanhol.
Do sistema de transporte público, apenas os trens da região da Catalunha e os ônibus da Cantabria aderiram à greve. O resto funciona normalmente nesta terça-feira, assim como ambulatórios, serviços de urgência, escolas, Registro Civil, alguns juizados e sessões no Congresso dos Deputados e no Senado.
Os cortes de salários previstos no plano de ajuste afetarão cerca de 2,8 milhões de funcionários públicos da Espanha, que podem perder até 220 euros por mês. Segundo o governo, as reduções começam em julho e serão feitas progressivamente por um ano. Os sindicatos consideram o plano “um duro golpe” do governo na política social, que era uma das principais bandeiras de Zapatero. A paralisação desta terça-feira marca, segundo analistas políticos do país, o fim de uma paz social que a Espanha conseguia manter apesar da crise.
A redução é a principal medida de um plano de ajuste da Espanha para reduzir seu déficit público 11,2%, quase quatro vezes maior que o limite estabelecido pela União Europeia.

sexta-feira, 28 de maio de 2010

Do Rio ao mar de crises

Um voto. Essa foi a diferença do placar na votação da "varredura social" que o governo da Espanha anunciou na semana passada. Por um voto, o Congresso do país fez cair ontem pensões, parte dos salários do funcionalismo público e uma série de benefícios, como os 1.200 euros para casais que tenham filho, num claro sinalizador da crise do Estado de Bem-Estar Social europeu. "É o início do fim", proclama hoje um jornal espanhol.
Um voto. Essa foi uma das demonstrações mais explícitas atualmente de como a Espanha está dividad com relação ao apoio ao governo de José Luis Rodriguez Zapatero, que ao longo dos quase oito anos de mandato teve amplo apoio da população - até que veio a crise econômica e da relação de Zapatero com o povo espanhol.
Mas, se a população não aprovou os recortes de gasto, a União Europeia "expressou satisfação" pela aprovação do plano. É que ele representa um indicador de que a Espanha está disposta a recortar no social - uma das principais bandeiras políticas de Zapateiro - para se enquadrar nos padrões "de mercado" da União Europeia.
Quer mostrar aos seus sócios que, sim, a Espanha é um país europeu, mesmo que para isso sacrifique sua própria população.
Zapatero sabe bem disso. Não por acaso, cancelou sua ida ao Rio, onde participaria da "Aliança das Civilizações", no Aterro do Flamengo, para tentar colocar ordem na casa e acalmar os vários setores indignados com a medida e que preparam greves, manifestações e paralizações - a começar pela da Renfe, que administra todos os trens do país e parou hoje.
Alguém tem dúvida se o presidente espanhol preferia estar por aqui administrando acordo com sindicatos ou tomando um drinque de fim de tarde no Aterro do Flamengo?

quinta-feira, 20 de maio de 2010

"El País" e Brasil, um caso de amor

Uma "parceria" das boas fizeram o governo brasileiro e o jornal espanhol "El País", que, nas últimas semanas, tem destacado o Brasil em tudo quanto é editoria. Depois de uma longa entrevista de Juan Luis Cebrián, o manda-chuva da publicação, com Lula na semana passada, de uma reportagem de capa na revista de domingo sobre o Brasil e de um perfil de Dilma Rousseff, ontem o jornal abriu suas portas para o presidente e sua comitiva entrarem: fez um seminário chamado "Brasil. Aliança para a nova economia global", no qual o próprio presidente Lula, além dos ministros Guido Mantega e Paulo Bernardo e dos presidentes do BNDES, Luciano Coutinho, e do Bradesco, Luiz Trabuco, foram os discursantes.
A trupe passou uma manhã inteira tentando convencer uma plateia de empresários e investidores espanholes que o Brasil, uma economia "sólida", é "o país do momento", nas palavras do presidente.
No mesmo dia, o jornal saiu com suplemento especial sobre o Brasil. E os discursos foram transmitidos pelo site do "El País", que abriu especial sobre o Brasil com suas principais tendências. As páginas podem ser conferidas aqui, aqui, aqui e aqui.
Mas a farra tupiniquim nas páginas do jornalão espanhol ainda não acabou. Neste sábado, sai caderno de viagem especial sobre o Rio de Janeiro, que parece selar as pazes do jornal com o Brasil, de quem, aliás, andava "falando mal" nos últimos meses...

Abaixo, matéria que eu fiz para a Folha de São Paulo desta quinta-feira sobre a visita de Lula:

Estrangeiro reclama de burocracia
Em evento com Lula, espanhóis elogiam expansão brasileira, mas ainda veem entraves aos negócios

LUISA BELCHIOR
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, DE MADRI

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva aproveitou seu último dia na Espanha, um país ainda mergulhado na crise econômica, para pedir mais investimentos no Brasil.
Levou uma comitiva formada por Guido Mantega (Fazenda), Paulo Bernardo (Planejamento) e pelos presidentes do BNDES, Luciano Coutinho, e do Bradesco, Luiz Trabuco, que soltaram uma enxurrada de cifras para mostrar a solidez e a "previsibilidade" do país.
"Venho aqui pedir que os senhores acreditem no Brasil e invistam no Brasil", disse Lula ontem a cerca de 150 empresários espanhóis, durante seminário sobre o futuro do Brasil.
Na plateia, investidores -como os presidentes das multinacionais Telefónica e Iberdrola, representantes de empresas ligadas ao petróleo e ao esporte e banqueiros- se mostraram especialmente animados com cifras de aumento do consumo, diminuição do deficit público e previsões de crescimento na casa dos 6% neste ano.
Mas alguns deles, ouvidos pela Folha, disseram-se cautelosos com os efeitos da crise na Espanha e entraves de investimentos no Brasil.
"Ainda há muita burocracia no Brasil e a política fiscal é muito complexa. Também estamos vendo uma competição excessiva lá", avaliou o diretor da Câmara de Comércio espanhola Gonzalo Solada.
Mesmo assim, ele afirma que o Brasil é apontado como um dos principais mercados para investidores espanhóis.
O crescimento do consumo, que, segundo expôs Mantega, ficou na casa dos 9% em abril -"quase uma demanda chinesa"-, é um dos principais atrativos para os espanhóis.
Isso porque, segundo apontaram ontem, seu expertise atual está em produtos voltados à chamada classe C brasileira, como artigos de telefonia, turismo e roupas.
"Temos muito mercado para descobrir no Brasil", disse Dominique Riberolles, da Cia. Espanhola de Petroleiros, que há dez anos investe no país. Ele disse que a crise tem estimulado os investimentos em emergentes como o Brasil.

Confiança
"É uma forma de fugir do nosso mercado interno", disse Riberolles, que elogiou o discurso do presidente Lula. "Deu-nos mais confiança."
Confiança foi a palavra-chave da imagem vendida ontem pela comitiva brasileira. Lula falou no país como a 5ª economia mundial em 2020. Mantega deu previsão de fechar 2010 com o deficit público em 1,5% do PIB, "o menor do G20".
Isso para uma plateia que ainda está absorvendo o anúncio, na semana passada, de cortes sociais do governo espanhol para diminuir o deficit de 11% da Espanha -muito acima da meta de 3% da União Europeia.
Questionado por um empresário se não se trata de um "voo de galinha" do Brasil, Paulo Bernardo disse que há preocupação em equilibrar o crescimento. "Achamos muito mais razoável que a economia cresça mais de 6% neste ano e tenha condições de crescer 4,5%, 5% em 2011. O que não queremos é voar além do planejado."

quarta-feira, 19 de maio de 2010

Kirchner, Irã e Lula dominam cúpula UE-AL em Madri


Nesta semana os presidentes latinos e da União Europeia vieram a Madri para participar da Cúpula UE-AL. Lula, Sarkozy, Ivo González, Angela Merkel, Alvaro Uribe e muitos mais estiveram na cidade para um encontro, como sempre, com muito blablablá e umas poucas medidas.
Para além do debate político e econômico, o grande destaque da cúpula foi a presidente da Argentina, Cristina Kirchner. Desta vez, ela conseguiu roubar as (muitas) atenções do Lula, mesmo que o presidente tenha ganhado um prêmio no encerramento do encontro.
De terninho rosa, colar de pérolas e muito botox, Kirchner falou duro contra o protecionismo europeu e a "falência" da ONU. Como estava também na condição de presidente da cúpula, apareceu mais que ninguém. Qualquer coletiva de imprensa e lá estava ela, falando "em nome de toda a América Latina", lembrando o seu passado como advogada e da sua amizade com Lula. Olhou para a placa de homenagem ao brasileiro e disse: "só consigo pensar onde a Marina vai pendurar este quadro tão lindo".
No mais, o que ficou da cúpula foi o anúncio de reabertura das negociações para um mercado de livre comércio entre o Mercosul e a União Europeia. Ou seja, portas abertas da Europa para os nossos produtos. Claro que há muitos europeus contrários - França, Alemanha e mais oito já assinaram carta em oposição ao livre comércio -, mas o discurso oficial foi de que "a União Europeia quer o livre comércio com o Mercosul, se sair será o nosso mais importante acordo", nas palavras do presidente espanhol José Luis Rodriguez Zapatero, que disse que em julho começa a rodada de negociações.
O Lula, para variar, foi outro destaque. Mesmo sem fazer esforço - não participou de nenhuma coletiva e faltou ao jantar oferecido pela família real espanhola aos presidentes - o brasileiro apareceu por causa da sua visita ao Irã e, no final, pelo prêmio que recebeu de uma organização empresarial espanhola, das mãos da vice-presidente da Espanha. Lá, admitiu que está com o ego inflado, o que não impediu dos discursantes o inflarem ainda mais.
A seguir, uma das notas que fiz para a Rádio França Internacional:
www.portugues.rfi.fr

Luisa Belchior, correspondente da RFI em Madri.

sábado, 15 de maio de 2010

Madri, capital mundial do...tênis


Esta semana aconteceu por aqui o Masters 1.000 de Madri, um torneio que reúne quase todos os chamados "top ten" do esporte e muitos outros, no masculino e feminino, além de ser a "porta de entrada" para a temporada dos Grand Slams, que começa na semana que vem.
O Madrid Open não chega a ser um Roland Garros da vida, mas tem sua bossa.
Uma delas é ter sido o único lugar onde, no último ano, Roger Federer e Rafael Nadal, os reis do tênis atual, se enfrentaram numa final. Uma delas foi há exato um ano, quando o suíço Federer, número um do mundo, tirou do espanhol Nadal a vitória em casa, em uma derrota que, posteriormente, lhe fez perder o posto de segundo do mundo.
A outra delas foi ontem, na revanche perfeita de Nadal. Ele não só bateu Federer como também o recorde de títulos de Masters 1.000 (18 deles). Foi a consagração da sua volta ao topo -mais precisamente ao segundo lugar do ranking, que ele recuperou com as vitórias em Madri-, depois de um ano de lesões e derrotas.
A seu favor, Nadal tinha ainda uma torcida de 11 mil pessoas, sobre a qual escrevi matéria publicada hoje na Folha de S. Paulo, e que reproduzo ao final do post.
No reino das mulheres, o Madrid Open foi uma zebra total. Uma a uma, as melhores do ranking foram caindo: Serena Williams, Caroline Wozniacki (2ª do ranking), Safina (número 5) e Maria José Martinez (espanhola que ganhou o Aberto de Roma). A Venus Williams foi a última delas, e perdeu na final para a francesa Aravane Rezai.
De resto, muitos VIPs, como Cristiano Ronaldo, Raul e a família real espanhola (tirano o rei, que semana passada passou por operação para retirada de um nódulo) e muito, muito tênis. De primeira, mesmo não sendo um Gran Slam.

Torcida vaia, mas aplaude Federer no fim
Federer, que não conseguiu defender o título ganho em 2009

LUISA BELCHIOR
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, EM MADRI

"Não se esqueça que estamos na Espanha", advertiu Rafael Nadal quando da chuva de vaias recebidas pelo checo Tomas Berdych, em 2006, após o jogador mostrar um dedo nada educado para plateia, que fazia barulho pelo compatriota Nadal.
Explosivos como qualquer bom espanhol, os cerca de 11 mil torcedores que ignoraram a decisão do Campeonato Espanhol de futebol e acompanharam ontem a final do Master 1.000 de Madri -incluindo a rainha Sofia, da Espanha- não chegaram a fazer o mesmo com Federer.
Mas deixaram de lado algumas regras básicas de plateias mais "serenas", nas palavras do próprio Federer.
Numa espécie de mistura entre Maracanã e Roland Garros, o público do Madri Open, acompanhados por celebridades como os jogadores Cristiano Ronaldo e Raul, do Real Madrid -que foram ao torneio todos os dias menos ontem, quando estavam jogando-, e por parte da família real espanhola, respeita (quase sempre) os pedidos de silêncio durante os pontos.
Mas, a cada intervalo, por mínimo que seja, faz barulho. Muito barulho.
Na partida de ontem, intercalava gritos de "Olé!"com "vamos Rafa!", aplaudia de pé pontos as típicas cruzadas de seu compatriota, lamentava suas bolas na rede, agitava bandeiras, ria e até vaiava -como no ponto repetido pela dúvida do juiz e de Federer em uma bola de Nadal.
O próprio espanhol pediu, em um gesto com a mão, para a plateia se acalmar.
"Aprende com ele", gritou um torcedor, quando Nadal, apontou com a raquete para uma marca que assegurava uma bola boa do adversário.
"O público daqui é um público muito animado, faz com que o torneio de Madri seja espetacular", defendeu Nadal após a partida.
"Se nota muita diferença para torneios como Wimblendon. Lá há muito mais silêncio. Aqui [Madri], a plateia se envolve mais, participa", observou o Federer, que, ao deixar a quadra após a final de ontem, ganhou uma salva de aplausos.

sexta-feira, 14 de maio de 2010

Justiça da Espanha suspende seu juiz mais famoso

O juiz espanhol Baltasar Garzón, um dos mais importantes da Europa, acaba de ter suas atividades suspendidas na Espanha. O Conselho Geral do Poder Judicial do país decidiu suspendê-lo por causa dos três processos que ele responde atualmente.
Com a decisão, Garzón fica afastado da Audiência Nacional, órgão que ele presidia e que é um dos mais altos na Justiça espanhola, com competência para julgar casos internacionais. O juiz apresentou nesta manhã um recurso pedindo a anulação dos processos contra ele, mas o recurso não foi aceito pela Justiça.
A suspensão também deve impedir Garzón de ser transferido para o Tribunal Penal Internacional de Haya, o tribunal da ONU que julga crimes internacionais contra a humanidade. O juiz espanhol havia solicitado a transferência no início desta semana. No entanto, os membros do Conselho de Justiça espanhol discutem o pedido na tarde desta sexta-feira.
Na noite de quinta-feira, Garzon declarou que aceitaria a decisão do Conselho do Poder Judicial. Foi a primeira vez que o juiz se pronunciou desde que se tornou réu, no início de abril.
“Afronto [o processo] com tranquilidade, porque sei que sou inocente. Como sou respeituoso com as leis, vou assumir as decisões de amanhã e seguirei com os recursos de defesa”, afirmou Garzon, em entrevista às redes de televisão espanholas.
Famoso por casos em que determinou a prisão do ex-ditador chileno Augusto Pinochet e de Osama Bin Laden, o magistrado acabou se tornando réu no início de abril. Ele responde por um processo por suposta prevaricação e de ir além de sua competência ao determinar, em 2008, investigação sobre crimes da ditadura de Franco na Espanha.
Recai ainda sobre ele acusações de determinar escutas telefônicas supostamente ilegais em investigação de um grupo de corrupção envolvendo o Partido Popular, principal oposição do governo espanhol, e de ter sido pago pelo banco Santander para fazer palestras em Nova York. Logo depois, Garzon absolveu o presidente do banco, Emílio Botin, de um caso em que era réu.
Se condenado, o juiz será afastado de seu cargo por um período de até 20 anos, o que pode significar o fim de sua carreira judicial.

quarta-feira, 12 de maio de 2010

Plano da anti-deficit espanhol: mais aos mercados e menos ao social

Todos os funcionários públicos da Espanha vão ficar sem 5% do salário a partir de julho. Já os pensionistas terão o benefício congelado. Aposentados? Muitos cortes à vista, assim como os 2.500 que ganhavam todos os espanhóis para ter um bebê.
Estas são algumas das nove medidas anunciadas nesta manhã pelo presidente José Luis Rodrigues Zapatero, que já enfrenta uma enxurrada de manifestações, que começaram pelos deputados na sessão de hoje mas deve se alastrar por vários setores da população ao longo da semana.
O principal anúncio foi a redução de 5% no salário dos funcionários públicos a partir de julho e o seu congelamento um ano depois. Polêmica? Não menos que uma série de cortes nas aposentadorias da população espanhola, cada vez mais envelhecida e, portanto, dependente do benefício. Mas o plano de aumentar a população jovem também parece ter ido por água abaixo: os 2.500 euros que cada espanhol ganhava pelo simples fato de ter filho vão pro espaço a partir do ano que vem.
A faca também passou pelas pensões e pelos programas de cooperação internacional do governo espanhol, até hoje um dos mais elogiados no mundo.
Tudo isso para cumprir com um acordo que os países da União Europeia fizeram este fim de semana em Bruxelas. A meta? Reduzir o déficit público, que, na Espanha, é um dos maiores do bloco.
Com as medidas anunciadas hoje, o governo disse que vai economizar 15 bilhões de euros nos próximos dois anos e, com isso, reduzir em cinco pontos percentuais o déficit até o fim do ano. A meta se enquadra nas exigências da EU – e dos mercados, cada vez mais desconfiado da economia espanhola – mas resta saber o que uma população acostumada ao Estado de Bem-Estar Social vai achar dos sucessivos cortes de benefícios.

sexta-feira, 30 de abril de 2010

Espanha, quase um Rio de Janeiro de desempregados

Imagine 75% da população carioca sem emprego.
É essa a quantidade de desempregados na Espanha no primeiro trimestre deste ano. Em valores brutos, são 4.612.700 pessoas. Em termos percentuais, 20,05% da população ativa, mais que o dobro da taxa de desemprego dos países da zona do euro, de 10%.
A cifra, divulgada oficialmente nesta sexta-feira pelo Instituto Nacional de Estatística da Espanha, assustou a população, já apavorada com o "paro" (desemprego), e surpreendeu o governo. Isso porque, no fim do ano passado, o presidente José Luis Rodriguez Zapatero garantiu que o índice não ultrapassaria os 20% da população ativa.
Nesta sexta-feira, ante a nova cifra de 20,05% - recorde na última década -, o governo se viu obrigado a reconhecer a gravidade da situação e se apressou a anunciar medidas anti-crise.
Uma delas foi a redução de 32 empresas públicas. O corte, decidido na manhã desta sexta-feira na reunião semanal de ministros, começará nas próximas semanas e significará uma economia de 16 milhões de euros , segundo a ministra de Economia, Elena Salgado. A oposição classificou a medida de insuficiente e pediu uma mudança drástica na política econômica de Zapatero.
Em termos absolutos, os dados mostram que 286.200 pessoas engrossaram a lista de desempregados na Espanha no primeiro trimestre. Desses, 80% são homens, e 60%, jovens.
Na região da Andaluzia (sul da Espanha) e nas paradisíacas Ilhas Canárias, o índice de desempregados passou dos 25%. E, entre os estrangeiros, chegou a 30,9%, uma cifra que preocupa o governo, já que a população imigrante contribui de forma importante para o sistema de Previdência Social, cada vez mais sobrecarregado com o aumento de aposentados e desempregados. Apesar disso, a previdência espanhola continua em superavit.
Veja também e escute aqui.

quinta-feira, 29 de abril de 2010

Espanha escorrega no ranking da S&P, e desemprego passa dos 20% da população

Depois de Grécia e Portugal, foi a vez da Espanha entrar na mira da S&P (Standard & Poor´s), uma das agências de qualificação de risco que ainda sacode os mercados. Na noite de quarta-feira, minutos antes do fechamento da bolsa de Madri, a agência lançou a bomba: um informe que empurrava a Espanha escada abaixo no seu ranking e previa que a economia do país só deve ser refazer da crise junto com a Olimpíada do Rio (sim, 2016).
A queda espanhola no escalão da S&P não foi muito grande: de AAA para AA, categorias consideradas de alta qualidade. Mas o suficiente para derrubar a bolsa e criar uma nova onda de desconfiança de investidores mundiais ante a Espanha e colocar em dúvida a recuperação da economia. Isso tudo em uma semana em que se divulgou que o desemprego ultrapassou os 20% da população ativa do país, mesmo depois de o presidente Zapatero ter garantido que esse índice não aumentaria mais.
A seguir matéria que eu fiz esta manhã para o boletim da RFI, disponível em áudio aqui.

Depois de Grécia e Portugal, foi a vez da Espanha descer no ranking da agência Standard & Poor´s. O país, que há um ano tinha a qualificação máxima, caiu para a terceira posição no ranking da agência, que apontou ainda um crescimento tímido da economia espanhola até 2016. Com a notícia, anunciada minutos antes do fechamento da bolsa de Madri, o Ibex, índice de referência do mercado espanhol, despencou e fechou em baixa de 2,99%, acumulando um negativo de 7% só nos últimos dois dias.

Ainda na noite de quarta-feira, o governo se apressou em acalmar os mercados, qualificando de exagerada a redução da Standard and Poor´s. A ministra de Economia, Elena Salgado, declarou que sua equipe está cumprindo todos os prazos a que se comprometeu para a redução do déficit público, e que a situação logo se acalmará. Já o secretario de Economia, José Manuel Campa, defendeu a credibilidade das contas públicas e foi aos mercados na manhã desta quinta-feira garantir que não há risco nos investimentos do país.

A imprensa espanhola também interpretou a notícia da Standard & Poor´s como pessimista, mas cobrou do governo medidas mais efetivas para alavancar a economia. Já a oposição, liderada pelo PP (Partido Popular espanhol), culpou a equipe do presidente José Luis Rodriguez Zapatero pela avaliação negativa. Ontem, o líder do PP, José Mariano Rajoy, declarou que o presidente alcançou o limite da degradação da economia espanhola.

Apesar da má notícia da Standard ando Poor´s, a bolsa espanhola amanheceu em alta nesta quinta-feira, animada pelos resultados positivos divulgados por algumas empresas espanholas como a Repsol, que elevou seu benefício em 30% no primeiro trimestre do ano. No mesmo período, o banco Santander também incrementou os ganhos em 5,7% em relação ao ano passado, com um lucro de 2,2 15 milhões.
No entanto, até a manhã desta quinta-feira, o Ibex estava 10.375 pontos, abaixo dos 11.190 necessários para recuperar a alta na semana.

No informe em que anuncia a baixa da qualificação da Espanha da categoria AAA para AA, divulgado na noite de quarta-feira, a agência Standard and Poor´s também avalia que a economia espanhola não crescerá até 2016. O prazo é cinco anos mais tarde da previsão do governo espanhol para a recuperação do país.
A notícia deve reformular os planos do governo. No conselho semanal de ministros, nesta sexta-feira, se espera o anúncio de medidas mais duras, como o corte de funcionários públicos.

A ministra da Economia, Elena Salgado, em coletiva para avaliar o anúncio da S&P

segunda-feira, 26 de abril de 2010

Juiz mais famoso da Espanha vira réu, e população vai às ruas em apoio ao magistrado


Baltasar Garzon é um juiz pop. Mandou Pinochet para a prisão, condenou Osama Bin Laden e no ano passado desarticulou a provável versão espanhola da máfia. Tem uma legião de fãs na Espanha, especialmente depois de começar a investigar os culpados pelos crimes da ditadura de Franco.
Em breve, porém, se sentará no banco do réus. E justamente por começar a remexer nos anais do franquismo. Alguns acham que meteu a mão onde não devia, política e juridicamente falando. É o caso de seu colega Luciano Varela, que no início de maio aceitou uma ação de duas associações ultraconservadoras da Espanha, a Manos Limpias e a Falange, alegando que Garzon não tinha competência para tanto. E mais: que, pela lei de anistia espanhola, os crimes da ditadura de Franco, por mais cruéis que tenham sido, estão prescritos.
Desde então, Garzon, que perderá a toga por até 20 anos se for condenado, virou assunto em mesas de bar, editoriais de jornais, salas de aula (inclusive a minha) e tantas outras discussões apaixonadas, tanto a favor quanto contra o juiz.
Neste fim de semana, parte da multidão que o apoia - entre muitos artistas - saiu às ruas em 27 cidades da Espanha. Em Madri, o cineasta Pedro Almodóvar, uma das oposições mais ferrenhas ao franquismo vindas do corpo artístico espanhol, liderou o protesto.
A seguir, matéria da Televisão Espanhola e, em seguida, a que eu fiz para a Radio França Internacional sobre as manifestações:

Miles de personas se manifiestan en apoyo a Garzón




Quase 30 cidades espanholas fizeram manifestações neste sábado em favor do presidente da Audiência Nacional da Espanha, Baltasar Garzón, um dos juízes mais importante da Europa. Famoso por casos em que determinou a prisão do ex-ditador chileno Augusto Pinochet e de Osama Bin Laden, o magistrado acabou se tornando réu no início deste mês. Ele responde por um processo por suposta prevaricação e de ir além de sua competência ao determinar, em 2008, investigação sobre crimes da ditadura de Franco na Espanha.

O processo provocou a revolta de boa parte da população espanhola, que neste sábado, participou de protestos em apoio ao juiz convocados pelo site de relacionamentos Facebook. O principal deles acontece em Madri, onde participam intelectuais e artistas encabeçados pelo cineasta Pedro Almódovar. Também haverá atos em capitais europeias como Bruxelas, Londres e Lisboa e latino-americanas, como Cidade do México e Buenos Aires.

A determinação do Tribunal Supremo da Espanha de tornar Garzón réu no processo detonou debates calorosos na sociedade espanhola. Jornais têm se manifestado abertamente a favor de Garzon, caso do “El País” e até o “New York Times”, e também contra o juiz, como o direitista espanhol “El Mundo”. Uma página do Facebook aberta para apoiar o Garzón já conta com cerca de 190 mil membros. E ontem, o ex-presidente espanhol Felipe González também saiu em defesa de Garzón. Declarou que a sentença contra o juiz é inexplicável e injusta, e disse não achar que houve prevaricação.

A acusação veio por parte de duas associações conservadoras, Falange e Manos Limpias, que entraram com a ação no Supremo Tribunal, uma instância acima da Audiência Nacional, que Garzón preside. O juiz Luciano Varela aceitou o caso.
Se for condenado, Baltasar Garzón pode ser afastado de seu cargo por até 20 anos.

Ontem, porém, o magistrado apresentou um recurso ao Tribunal Supremo que pode representar uma reviravolta no caso. Nele, acusa o colega Luciano Varela de auxiliar as associações direitistas Falange e Manos Limpas na abertura do processo contra Garzón. Pede, por isso, a anulação do processo, mesmo pleito que fazem neste sábado os participantes das manifestações em prol do juiz. O primeiro efeito da medida foi a expulsão do grupo Falange da causa, por supostamente apresentar a acusação formal fora do prazo.

Além de Madri, houve protestos em cidades como Barcelona, Ceuta, Las Palmas de Gran Canárias, Palma de Mallorca, Málaga, Santander, Santiago e Vigo. Também neste sábado, os grupos conservadores que pediram o julgamento de Garzón convocaram outro protesto, perto do ponto de concentração do ato em favor do juiz. Policiais foram convocados para impedir enfrentamentos.

quarta-feira, 21 de abril de 2010

Samaranch, luta anti-doping e o Tratado de Lisboa


O que o Tratado de Lisboa tem a ver com a luta antidoping?
Tudo, para a comissão de esportes da União Europeia. É que o tratado, que entrou em vigor neste ano e dá mais poderes à UE, também permite que os manda-chuvas do bloco determinem, pela primeira vez, o que pode e o que não pode no complexo mundo esportivo europeu.
E uma das primeiras medidas será fortalecer a luta anti-doping, segundo anunciou nesta terça-feira o secretário de Esporte da UE Jaime Lissavetzky, em reunião dos ministros de Esporte dos 27 países da União Europeia hoje aqui em Madri. A ideia, segundo ele, é apertar o cerco aos atletas com mais testes e mais tecnologia.
O anúncio foi feito no mesmo dia em que morreu, em Barcelona, o presidente de honra do COI (Comitê Olímpico Internacional) Juan Antonio Samaranch. O espanhol, que revolucionou as Olimpíadas modernas, é conhecido por impulsionar a luta anti-doping, principalmente durante seu mandato frente ao COI, que foi de 1980 a 2001.
Outra será "baixar a bola" dos clubes de futebol, principalmente os espanhóis, como o Real Madrid, o mais rico do continente europeu. Por isso, anunciou Lissavetzky, vem aí uma reforma da lei espanhola de esporte, que deve limitar os "poderes" atuais dos clubes. "Os clubes têm um papel importante de formação de jogadores, de cedê-los às seleções, mas há que se ter outras formas para que se adequar o que os clubes ganham com o que gastam".

segunda-feira, 19 de abril de 2010

Sinal de fumaça III - Em cima da hora

Os aeroportos espanhóis de Barajas, em Madri, e Réus, em Barcelona, vão receber todos os cidadãos britânicos que estejam fora do país. De lá, serão transportados de barco, trem e ônibus até o Reino Unido.
A informação acaba de ser divulgada pela assessoria de imprensa do Ministério de Fomento espanhol.
A assessoria informou também que houve consenso na proposta apresentada pelo governo espanhol, que preside a União Europeia, para atenuar o caos aereo na Europa. O plano, no entanto, ainda não foi detalhado - o que acontecerá em instantes durante coletiva de imprensa em Madri.
Além dos aeroportos de Madri e Barcelona, os de Pamplona, Victoria e Bilbao, todos no norte da Espanha, vão receber voos com passageiros britânicos que já se encontram em território espanhol. O Ministério de Fomento explicou que, por enquanto, a operação só atenderá a cidadãos do Reino Unido.

Sinal de fumaça II

A partir desta segunda-feira e até a normalização do tráfego aéreo europeu, a Espanha será usada como plataforma de entrada para países do norte do continente, principalmente o Reino Unido. Os aeroportos espanhóis, que permanecem abertos, vão receber passageiros que querem chegar ao norte europeu e redistribuí-los por meio de barcos, trens e ônibus até o seu destino final. Só nesta segunda-feira, a operação deve ser utilizada por cerca de 100 mil pessoas, segundo o Ministério de Fomento espanhol.
A medida, que entrou em vigor as 9h30 desta segunda-feira, foi acordada entre os governos espanhol e britânico. O ministro de Fomento espanhol, José Blanco, que anunciou o acordo, convocou ainda para esta tarde uma reunião extraordinária entre os ministros de Transporte de todos os países da União Europeia para chegar a uma solução para o caos aéreo que se formou na Europa nos últimos dias.
A ideia é que, enquanto a situação não se normalize, a Espanha funcione como porta de entrada do continente europeu. Nesta segunda-feira, o país já receberá passageiros que estão em países da América do Norte e da Ásia com bilhetes para países do norte da Europa.
Os transportes marítimos serão a principal via de conexão, segundo o Ministério de Fomento. O governo britânico anunciou inclusive que vai auxiliar a Espanha nesta operação mobilizando parte de sua força marítima. Já para a conexão terrestre, o governo espanhol fortaleceu as linhas ferroviárias, principalmente com a França. Nesta segunda-feira, a Renfe, empresa que opera as linhas ferroviárias da Espanha, anunciou que já disponibilizou 2.400 lugares extras em seus trens.
Em entrevista à Rádio Espanhola na manhã desta segunda-feira, o ministro José Blanco afirmou que a Espanha está preparada para receber parte dos voos que seriam destinados ao norte da Europa. Mas disse que a situação é variável, porque depende das condições do vento. Na manhã desta segunda-feira, os aeroportos do país funcionavam normalmente, embora com muitas filas e tumulto principalmente em Madri e Barcelona.
A reunião entre ministros de Transporte da União Europeia está prevista para as 15h desta segunda-feira. Nela, caberá à Espanha, que preside a União Europeia, formular uma proposta para dar fim ao caos aéreo na Europa o quanto antes.
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Veja também na Radio França Internacional: http://www.portugues.rfi.fr/europa/20100419-com-aeroportos-abertos-espanha-ajuda-desafogar-caos-aereo

sexta-feira, 16 de abril de 2010

Sinal de fumaça

A tal fumaça do vulcão islandês baixou na Península Ibérica. Os aeroportos espanhóis também cancelaram os voos para os países do norte da Europa. E o Barajas, o aeroporto madrilenha conhecido com a "porta da Europa" vive nesta sexta-feira dia de Guarulhos em tempos de crise área brasileira: está lotado, com gente estressada, sentada e deitada no chão, horas e horas de espera, falta de informação, etc.
A seguir, nota que fiz para a Rádio França Internacional:

O caos aéreo provocado por cinzas de um vulcão na Islândia já alcançou o sul da Europa. Na Espanha, 932 voos mais da metade dos programados a países do norte europeu, foram cancelados nesta sexta-feira, segunda a Aena, empresa responsável pelos aeroportos do país. Todos eles permanecem abertos, mas nenhum está operando voos que chegam ou partem de Paris, Londres, Berlim, Zurich, Dublin e Varsóvia.
No total, os cancelamentos representam cerca de 58% dos 1.600 voos previstos pela Aena nesta sexta-feira entre a Espanha e países do Norte da Europa. Com isso, ao menos 13 mil passageiros, que registraram queixa por telefone à Aen, foram afetados.
No aeroporto de Barajas, em Madri, um dos maiores da Europa, há filas em todos os terminais de check-in e postos de informação. Os corredores estão lotados e muitos passageiros se queixam de falta de informação. Alguns deles relataram à Rede de Televisão Espanhola que esperam mais de seis horas sem saber quando vão embarcar.
A Aena informou que acordou com todas as companhias aéreas para que devolvam o dinheiro dos voos cancelados. A espanhola Iberia, no entanto, informou em nota que apenas trocará as passagens de quinta-feira, 15 de abril, a sábado, 17 de abril, entre cidades espanholas e Paris, Londres, Dublin, Bruxelas, Amsterdan e Copenhague.
Além de Barajas, os aeroportos mais afetados da Espanha são os de Réus, em Barcelona, Palma de Mallorca, Lanzarote, Málaga, Valencia e Alicante. Todos eles, no entanto, continuam em funcionamento.

quinta-feira, 15 de abril de 2010

Madri, capital mundial do mundo virtual


Imagine uma reunião entre 800 jovens selecionados em todo o mundo por suas habilidades com o mundo da informática, que 24 horas seguidas descarregando programas em computadores com capacidade até mil vezes maior que os que temos em casa. Essa reunião não só existe como acontece anualmente. Este ano, aproveitando a presidência espanhola da União Europeia, Madri sedia o encontro, que se chama Campus Party e começa hoje na cidade.
Basicamente, se trata de um encontro de tecnologia e diversão na rede, criada aqui mesmo na Espanha em 1997. Mas, além do troca-troca de downloads e de um sem fim de tendas onde os jovens acampam, os participantes também mostram suas últimas criações. Tendo em conta tratar-se dos 800 "experts" no mundo virtual, dá para imaginar as invenções que sairão dali.
Para acompanhar ao vivo a feira, que vai até o dia 18 aqui em Madri: http://tv.campus-party.org/.

quarta-feira, 7 de abril de 2010

A enchente do Rio vista da Espanha

"Como está sua família?", me questionou uma colega do doutorado nesta tarde assim que entrei na sala. Tardei um pouco para entender o por que da pergunta, até me lembrar que, durante todo o dia, as televisões do país repetiram imagens das enchentes no Rio. O assunto também ganhou destaque nos principais jornais espanhóis nesta quarta-feira.
O "El País", o principal deles (em número de leitores), publicou 13 notícias sobre os alagamentos ao longo desta quarta-feira, entre reportagens, depoimentos de moradores e notícias no site do jornal. No jornal impresso, os dois repórteres enviados ao Rio fizeram um amplo relato, com muitas fotos, de como a "cidade do sol e das exuberantes praias de Copacabana e Ipanema" se transformou em um "aguaceiro de 94 mortos" em algumas horas.
A TVE, emissora do governo que lidera a audiência por aqui, também trouxe notícias e imagens do Rio em todos os telejornais do dia. De tarde, já mostrava reportagem da enviada especial ao Brasil, que percorreu "los barrios de favelas" com sandália rasteira sobre o lamaçal. Entrevistou moradores e, à noite, entrou ao vivo da Barra da Tijuca, "um lugar ainda muito alagado", de onde explicou que os lugares mais afetados eram as "zonas de favelas, construídas ilegalmente nos últimos anos e que são mais de mil espalhadas pelo Rio de 'Rraneiro'". O assunto foi o segundo destaque na seção internacional do principal telejornal da emissora, com matéria que durou 2 minutos e 40 segundos, dentro da uma hora que dura o programa.
No "El Mundo", um dos destaque foi que "nem o Maracanã se salvou do dilúvio", entre as seis notícias que publicou. Em uma delas, o correspondente Luis Tejero relata sua "viagem ao coração do dilúvio", que se limita a depoimentos do prefeito Eduardo Paes e de um taxista, provavelmente o que o levou do hotel a uma das favelas atingidas por deslizamentos, onde também ouviu uma moradora. Ali, interpretou o silêncio de um amontoado de gente ante corpos de moradores soterrados como uma certa frieza de quem, "vivendo como vivem em uma favela, já não se impressionam com nada".
No geral, as notícias e reportagem parecem reproduzir o modelo das coberturas de crises e catástrofes internacionais: muitas imagens e informações de agências, reprodução de discursos oficiais e poucas críticas a eles e com generalizações - como a da repórter da TVE, que explica as favelas como "bairros de infravivenda onde a miséria se combate frequentemente com deliquencia e narcotráfico".
O efeito dessa cobertura, que vem na carona de um interesse crescente da mídia local por causa da disputa pela Olimpíada de 2016, na qual Madri foi a principal rival do Rio pude comprovar ainda nesta tarde, com o comentário da minha colega do doutorado: "o lado bom disso é que agora as autoridades vão enfim resolver o problema das favelas".