sábado, 30 de janeiro de 2010

Madridfusión em imagens

Para fechar a série de posts sobre o Madridfusión, segue uma sequência de imagens da fotógrafa paulista Lu Rocha, que vive por bandas europeias há oito anos, cinco deles em Madri, onde é representada pela agencia espanhola 0034 e coordena a produção de uma superexposição, a E·CO (Encontro e Exposição de Coletivos Fotográficos Euro-Americanos), para o mês que vem.
O trabalho dela é mais focado na intimidade, na proximidade, mas esta semana ela emprestou suas lentes ao Madridfusión - e a este blog. A seguir, alguns dos resultados:








sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

Arzak, avô da nova cozinha espanhola, é o destaque do Madridfusión


Juan Mari Arzak, um simpático e sorridente senhorzinho, entra na sala da coletiva de imprensa com um copo de champagne na mão, distraído por bate-papo. Quando se dá conta dos jornalistas que lhe esperavam, olha assustado e perguna: pode beber né?
Assim, tranquilo, sensível e humilde, é - ou pelo menos demonstrou ser - o chef vasco responsável pela modernização da cozinha espanhola.
Ou seja, uma espécie de pai de Feran Adriá, mas um pai bem ativo: depois de mais de 30 anos liderando sua cozinha e a vanguarda gastronômica europeia, continua no comando de uma equipe que pesquisa a influência das cores e dos sentidos na comida, leva seu restaurante no País Vasco e não pensa em se aposentar.
Foi o que disse Arzak no último dia do Madridfusión - encontro gastronômico que reuniu chefs como Ferran Adrià e Alain Ducasse na capital espanhola esta semana.
"Eu não paro, preciso de adrenalina. Quando entro de férias, já quero voltar para a minha cozinha", declarou.
Se o primeiro dia foi de Adrià - cujo anúncio de fechamento por dois anos de seu El Bulli foi a principal notícia do evento - e o segundo de Alain Ducasse, Arzak dominou o terceiro e último. Deu aula, palestra, entrevista, e perambulou pra lá e pra cá (como, aliás, fez nos três dias da feira, dando prova de como continua ativo.
Apesar do anúncio de Adrià, que se espalhou pelo mundo em alguns minutos, e da visita pioneira de Ducasse ao evento, o "vovô" Arzak deixou no Madridfusión as melhores lições e tendências. A principal delas: a volta da simplicidade na alta gastronomia. "Sou partidário de comer com as mãos, por exemplo", discursou. "É preciso mudar o conceito da alta gastronomia, tornar as coisas mais simples".
Mas como? "Começando a comer com as mãos, ora. Menos sopa, claro".

quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

Alain Ducasse vai ao Madridfusión depois de recusar convite por oito anos


O Madridfusión teve sotaque francês hoje. E dos bons. Depois de uma aula de trufas com Michel Troigrois, o encontro, um dos principais da gastronomia mundial que acontece até amanhã em Madri, abriu as cortinas para o chef Alain Ducasse, que tem nada menos que 14 estrelas no Guia Michelin e mais de 20 restaurantes ao redor do mundo, além de uma escola de formação que leva o seu nome.
Esta foi a primeira vez que Ducasse aceitou participar do Madridfusión, apesar de ter sido convidado em todas as edições. Mesmo assim, só aceitou o convite este ano por causa do tema desta edição: "Produtores, cozinheiros e consumidores: todos pela sustentabilidade do planeta".
"Tem muito a ver com o meu trabalho, com o que eu acredito", explicou Ducasse, que também expressou sua "paixão" pelos produtos do Mediterrâneo e pelos ingredientes simples. Seu prato preferito? "As verduras da minha horta".
Mas quando se trata de alta gastronomia..."é como a alta costura, não tem como abaixar os preços. Em Mônaco e Paris (onde mantém seus principais restaurantes), não tem como ser menos caro do que é, e mesmo assim não ganhamos muito dinheiro.
Com a crise, aliás, ele disse que perdeu entre 5% e 10% de faturamento nos seus negócios, tirando o ramo de bistros, que o chef francês planeja abrir mais filiais pelo mundo.
Disse hoje que inaugura em três meses um no Caribe, negocia outro em São Petesburgo e busca parceiro na China. Espanha e Brasil, por enquanto, estão fora dos planos. O primeiro, "porque há muita concorrência" - disse Ducasse, em um tom de brincadeira, ao referir-se à força da gastronomia espanhola atual - e o segundo...bem, porque não, sem muitas explicações. "Adoraria, mas por enquanto não" resumiu o chef.

Trufas e caviar - luxos sustentáveis?


Essa foi a questão que abriu o Madridfusión nesta quarta-feira.
A resposta, de novo, foi que sim, pelo menos no que depender dos produtores espanhóis, que têm investido na agricultura sustentável.
Bom, para os bolsos, nem tão sustentável assim: no leilão de trufas brancas de Soria, como estas da foto acima, realizado em uma das sessões de hoje, um ramo de 340gramas do produto, colhido na noite anterior, segundo os organizadores do leilão, foi arrebatado por nada menos que 5.500 euros.
Para os bolsos mais magros, a opção foi disputar 425 gramas de trufas negras de Soria, que, no "mercado comum", saem por 1.200 euros e, no leilão, foram para as dispensas do restaurante madrilenho Don Giovanni, depois de uma disputa acirrada com o chef francês Alain Ducasse, que foi a estrela do dia e do qual falaremos no próximo post.
Já o caviar não foi cobiçado pelo leilão, mas apresentado pelo também francês Michel Troigrois, da mesma família que expandiu suas alas para o Brasil através do Claude Troigrois.
À pergunta do início, Michel foi enfático: tornar o caviar um luxo sustentável é não só uma possibilidade como uma realidade. Prova disso é a cultura ecológica do produto existente na Andalucia, região no sul da Espanha, para a qual Troigrois "milita" desde que conheceu. "É de uma nobreza extraordinária", disse. E "ecosustentável".

terça-feira, 26 de janeiro de 2010

A gente não quer só comida

Hoje foi dia de mais uma "reunião de alto nível" aqui em Madri. Mas esqueça acordos multilaterais, medidas de segurança, desemprego, imigração: o assunto desta vez é gastronomia, e protagonistas, nomes como o espanhol Ferran Adrià - considerado o melhor chef do mundo - e o francês Alain Ducasse.
Eles participam do Madridfusión, um dos principais encontros gastronômicos do mundo, que acontece no Palácio de Congressos da cidade de hoje a quinta-feira. Nesses dias, os olhos do mundo gastronômico estão em Madri. E não por menos: na última década, a Espanha produziu uma "safra" de chefs que vêm ditando as tendências da alta culinária ano a ano.
E os principais estarão no encontro, que já começou com notícia quente: o Ferran Adrià, um catalão que transformou a gastronomia mundial com a sua chamada cozinha molecular (é difícil de entender e caro de comer) e que tem três estrelas - a cotação máxima - do Guia Michelin, anunciou que vai fechar por dois anos seu restaurante, o El Bulli (mais nesta nota que fiz para a Folha Online).
Abaixo, em "subposts" mais detalhes sobre Adrià e o que rolou hoje no encontro.

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Tirando o Adrià, a "onda ecológica" foi o assunto do dia. De manhã, chefs e críticos discutiram se é possível que a alta gastronomia - fã de métodos ecologicamente incorretos, como o foie gras - contribuir para o meio ambiente. Todos disseram que sim.
"Hoje em dia há essa ideia de que se é orgânico há menos sabor. Mas acho que estamos prestes a ter uma grande mudança. Os chefs vão adotar cada vez mais o conceito de ecocozinha", disse a jornalista americana Ruth Reich, editora da revista Gourmet.
"A grande cozinha não pode mudar o mundo, mais pode passar por uma mudança de valores e é certo que vai mudar seus modelos, que se tornarão mais ecológicos. Essa é uma tendência", emendou o jornalista espanhol Marcos Bolasco.
Embora não tenha convencido muito os participantes, o tema passeou por quase todas as palestras, inclusive a de Adrià, e volta à mesa amanhã e na quinta-feira.


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O prefeito de Madri, Alberto-Ruiz Gallardon, que não é bobo e é oposição, marcou presença nos holofotes, ao anunciar a homenagem do Madridfusión aos chefs espanhóis.
"Queremos ser uma cidade gourmet, entrar na rota do turismo gastronômico. A gastronomia é hoje um dos eventos culturais mais importantes da Espanha em todo nosso calendário. Apesar da crise, a gastronomia da Espanha está conseguindo se reinventar, com versatilidade e criatividade. Temos novos negócios, como os cozinheiros nômades, os serviços de cateringe a questão da sustentabilidade [por coincidência, três temas do encontro]", declarou.


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Você comeria caquinhos de vidro, um pombo ou um órgão cru de uma lebre espremido em uma peneira?
E se isso tudo fosse servido pelo melhor chef do mundo?
Pois foram essas algumas das criações apresentadas hoje pelo o catalão Ferra Adrià, como parte da sua "coleção de outono". Outras foram o néctar de uma flor, que se toma diretamente do caule, "uma coisa muito poética", nas palavras de Adrià, lentilhas desconstruídas e depois injetadas com uma seringa em uma peneira com água, camarões com azeite de chá, um Cosmopolitan quente com chá verde, consomé de ouriço do mar, consomé de pombo com folhas de outono de chocolate e, de sobremesa, falsos moluscos que, ao serem abertos, revelam-se um sorvete de caramelo em forma de pérola.
Muito complexo? Ok, tinha também caldo de cana.
Adrià, aliás, foi mesmo a estrela hoje. E não só pela facilidade com que lida com câmeras, plateias e repórteres. Aliás, demostrava o contrário no início da maratona - ele participou de manhã de uma homenagem a chefs espanhóis, depois fez uma apresentação para a plateia geral de novos ingredientes para a próxima temporada do El Bulli e fez coletiva de imprensa para anunciar o tal fechamento temporário do restaurante. E ainda papeou e bebeu muito champagne com jornalistas até o fim do dia...
Antes, contudo, parecia tenso. Roía as unhas, esfregava a mão sobre as sobrancenlhas, olhava continuamente para todos os lados, como que analizando cada um dos presentes no auditório do Palácio de Congressos de Madrid. Sorria pouco, ao contrário de seus colegas. Aceitou gentilmente um pacotinho de nozes distribuído por garçons no auditório. Em seguida, levantou e abandona o pacotinho no braço da cadeira.

Mas foi só entrar no palco que se transformou. Gesticulava, sorria, falava, falava, falava. E assim foi até o início da noite, quando tomava champagne e zanzava pela sala de imprensa.

sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

A primeira reunião a gente nunca esquece


Foi a primeira reunião da UE na Espanha desde que o país assumiu a presidência rotativa do bloco, no último dia 1º. Mas, como já se esperava, sem grandes resulados. Assim terminou a reunião informal de ministros do Interior da União Europeia, que aconteceu esta semana em Toledo, cidade vizinha de Madrid que é patrimônio, capital da região de Castilla La Mancha e, portanto, terra de Dom Quixote.
Entre os muitos assuntos discutidos, eis um, sobre o qual produzi uma nota para a Rádio França Internacional: http://www.rfi.fr/actubr/articles/121/article_15309.asp

terça-feira, 12 de janeiro de 2010

É proibido fumar. Ou melhor, será


O espanhol fuma. Muito. É uma das suas principais características: a de ser fumante. Um típico bar ou café espanhóis nunca serão típicos sem a fumaça estocada de cigarro, a qualquer hora do dia - antes das 10h, por exemplo, os cinzeros das cafeterías já estão cheios de pontinhas.
Daí que se pode imaginar o rebuliço que vem provocando uma proposta de lei do governo de proibir o fumo em lugares públicos fechados (ou seja, quase todos os bares e restaurantes, considerando que o frio na maior parte do ano limita a parte aberta para o verão).
A medida, chamada por aqui de Ley Antitabaco, é a grande bandeira do ano do Ministério da Saúde e o novo grito de guerra da titular da pasta, Trinidad Jimenez, depois de muitos meses repetindo o discurso preventivo ante a Gripe A. A cada reclame da oposição sobre a anunciada proibição, Jimenez retruca afirmando que a medida será aprovada com certeza neste ano.
Aprovada ou não, a medida - diga-se, um sinal dos "novos tempos" numa sociedade ainda marcada pelo tradicionalismo e pelo nacionalismo, que muitos identificam como herança franquista -, não vai passar sem muita discussão.
Além da oposição, que condena o "autoritarismo" da medida, o governo já vem enfrentando a fúria do setor hoteleiro e de restaurantes. Esta semana, a Federación Española de Hostelería y Restauración pôs a boca no trombone. Divulgou que nada menos de 40 mil estabelecimentos terão que fechar as portas ainda em 2010 se a medida for aprovada, o que provocará a perda direta de 100 mil postos de trabalho, segundo declarou a vicepresidente da ferederação, Gaieta Farràs, à agência de notícias Europa Press.
Em Madrid, quem entra em qualquer restaurante ou cafetería consegue ter uma dimensão da revolução que a proibição vai causar. Isso para não falar da vida noturna, que é movida à fumaça, de cigarro, claro.
Mas o governo local, controlado pelo PP (Partido Popular) e, portanto, de oposição ao governo socialista de Zapatero, já bateu o pé contra a proibição, que chamou de autoritária e irreal.
A população, segundo uma pesquisa divulgada no domingo, está dividida. A pesquisa Clima Social de Metroscopia, divulgada no início desta semana, dá conta de que 56% da população apoia a aprovação da lei.
Ainda não há data prevista para a votação da proposta, mas todas as vozes do governo socialista afirma que de 2010 não passa.
Se assim for, será o segundo "sinal dos novos tempos" sobre a fumaça espanhola. O primeiro veio em 2006, quando o cigarro foi proíbido em aeroportos(sim, isso quer dizer que até 2006 os espanhóis fumavam tranquilamente pelos corredores de Barajas, um dos maiores aeroportos europeus), shoppings e em alguns restaurantes e bares . Os (muitos) que continuaram permitindo a fumaça tiveram que colocar uma plaquinha na porta, como este: .
Desde então, é para lá que os fumantes, mais de um quarto da populaçao espanhola, segundo o Barômetro do Centro de Investigações Sociais do governo, correm desde então. A partir de 2010, seu destino é uma incógnita.

terça-feira, 5 de janeiro de 2010

Espanha tem o dobro da taxa de desempregados da UE


Desemprego. Esta foi a palavra de 2009 na Espanha. Desempregado (ou "parado", no castelhano), o personagem do ano, eleito inclusive pela última edição dominical do "El País" de 2009.
Hoje saiu o número total de desempregados em 2009 por aqui: 3.923.603, quase 20% da população economicamente ativa, divulgou o Ministério do Trabalho e Imigração. O que isso significa?
Basta dizer que essa taxa é mais que o dobro da taxa média de desemprego da zona do euro (países que já adotaram o euro como moeda), de 9,8%, segundo a Eurostat, o "IBGE" da União Europeia.
Há muitas explicações para esse quase um quinto da população economicamente ativa sem trabalho, e uma delas é o fato de a economia espanhola ter passado por uma arrancada no final da década de 90, com forte caráter especulativo, o que, por consequência, fez o país ser um dos mais afetados com a crise financeira.
A construção, setor que responsável pela tal arrancada da economia e sua posterior frenada, teve o maior índice de aumento de desempregados (7,5%, ante dezembro de 2008).
E as perspectivas para 2010 não são muito boas. O El País opinou no domingo que os empregos continuarão a cair pelo menos até o terceiro trimestre deste ano, quando, possivelmente, a curva de empregos deve voltar a subir. Hoje, com o balanço do Ministério do Trabalho, sentenciou: "nenhum outro país sofreu um deterioro tão intenso do mercado laboral" em 2009.
Esse deterioro foi visível em 2009 no dia-a-dia, além de um duro golpe para o "spanish way of life", que, nos hábitos laborais, é bem relaxado (basta dizer que as duas horas de siesta diária ainda são religiosamente respeitadas pela a maioria das empregadoras).
Agora, o que acontece em um país desenvolvido quando muita gente fica desempregada? Resposta: muita gente recebe o benefício do seguro-desemprego, que, por aqui, pode ser bem generoso (comparado, claro, com a realidade brasileira). O resultado foi também um baita prejuízo para o sistema de Previdência Social - que, no entanto, segue em superavit, ou seja, gerando mais recursos que gastos.
É aí que entra o peso da contribuição dos imigrantes para a economia do país, que, como seus vizinhos, tem uma população cada vez mais envelhecida. Mas agora não cabe muito entrar no tema da imigração - vamos entrar nele num próximo post.
Claro que, no dia-a-dia, as pessoas apertaram os cintos, muitos foram demitidos e tal, mas continuam comprando, investindo, trabalhando, ou seja, tendo uma vida mais ou menos normal. Amanhã, passado o dia de Reis Magos - que é quando se trocam presentes aqui - começam as grandes liquidações de inverno, as "rebajas", aquelas com a típica cena das pessoas amontoadas na porta de grandes cadeias de lojas e correndo em direção às prateleiras no primeiro minuto de suas aberturas.
No nível político, a oposição cobra reformas que tornem o mercado de trabalho mais fixo e menos temporário (uma forte característica deste mercado na Espanha) e o governo lançou, no fim de novembro, a chamada Lei de Economia Sustentável, com medidas como redução de entraves burocráticos para abertura de empresas, suspensão de dedução fiscal de lares e, em resumo, tornar a economia espanhola mais dinâmica.
Mais que os números apresentados hoje, essa catarse coletiva em busca dos melhores preços de fato será um dos melhores indicadores para avaliar se o desemprego e a crise já "tocaram fundo", como se diz por aqui.

sábado, 2 de janeiro de 2010

TV Espanhola bane publicidade

Assistir a um filme ou um programa na TV aberta espanhola implica um exercício de paciência. Não pela qualidade dos programas em si - apesar de eles não pouca vezes serem de fato ruins e entediantes - mas pela quantidade e o tempo de intervalos comerciais que se joga em cima dos pobres telespectadores.
Jogava-se. Desde ontem, a TVE - canal estatal espanhol que é o mais assistido pela população (segundo pesquisa divulgada nesta semana) - baniu completamente a propaganda da programação de suas duas estações - a 1 e a 2 (por aqui, as emissoras são chamadas pelo número do canal. O que quer dizer que, sim, também há a 3, a 4, a 5a 6 e a 7, todas chamadas assim mesmo).
Traduzindo: a rede agora dependerá 100% do financiamento público. E, para cobrir os (muitos) vácuos temporais deixados pelos gordos anúncios de bancos, empresas de telefonias e de bebidas - são oito mil horas anuais no total, segundo a própria TVE -, transmitirá programas antigos e novos e parte da programação da TVE 24 horas, uma espécie de Globonews espanhola (também só disponível na TV fechada).
A validade da fórmula ainda é duvidosa. Existe um impasse com anunciantes que já haviam fechado com a TVE o valioso espaço de publicidade no intervalo de jogos de futebol e outros eventos esportivos. Mas tem sido elogiada tanto por analistas em entrevistas a jornais e TVs daqui e por espanhóis (leia-se amigos meus daqui) que dizem não saber o que é assistir a um programa de TV sem um intervalo comercial de menos de 6 minutos cada.
Os canais privados, embora não radicalize com a TVE, também terão que restringir as gordas publicidades. Isso porque a decisão da cadeia estatal veio na carona de uma recente medida do Congresso, que limitou a 19 minutos por hora o tempo médio de propaganda nos canais espanholes. A TVE, que já vinha planejando sua dependência total de verba pública, foi mais além e, a partir de 1 de janeiro de 2010, pela primeira vez nos seus 50 e picos anos de história, deixou a publicidade para trás.
Quer dizer, quase. Ainda há anúncios, embora nenhum ligado à iniciativa privada. É o caso da publicidade da campanha "Sin publi (sem publicidade)", que a TVE já vem transmitindo desde dezembro:

Primer día sin publicidad en TVE


Vamos começar?

Touradas, Flamenco, Paella, Siesta.
Se você acha que essas quatro palavrinhas descrevem a Espanha,.. bem, você está certo. Mas, assim como a triologia samba, futebol e carnaval, elas formam apenas uma das muitas possibilidades de enxergar o país europeu. As outras - muitas outras - são o foco deste blog, que aproveita o início da presidência espanhola da União Europeia - de hoje até o fim de junho - como o gancho para um mergulho numa sociedade da qual eu participo há um ano.
Sim, a Espanha ainda é o país das touradas - embora muito se discuta sobre sua extinção -, da paella - ainda que daqui se dite o que há de mais contemporâneo na gastronomia atual -, do flamenco - que tem dividido o palco com outras expressões musicais - e da siesta - tente ir ao banco ou em alguma loja entre 14h e 17h e você verá como esse hábito resiste ao tempo por aqui.
Mas neste espaço vamos colocar os holofotes na Espanha do cotidiano, na Espanha do desemprego, da imigração, dos diferentes dialetos e regiões separatistas, da energia eólica, das discussões para liberar o aborto e proibir o cigarro em locais fechados, das heranças nacionalitas de Franco, da chamada geração "mileurista", das grandes liquidações semestrais, da gastronomia "de ponta" e da tradicional, da força do catolicismo e da oposição direitista, da impopularidade crescente do presidente, das características da população, do ETA, das festas, das cidades, do turismo, da bolha imobiliária, da qualidade da programação televisiva...e do que mais for aparecendo por aqui.
O ponto de vista, claro, é pessoal, mas sem qualquer intenção de bajular ou criticar o país. A ideia é compartilhar minhas impressões e transmitir um pouco do que se passa do lado de cá. Vamos começar?