sexta-feira, 30 de abril de 2010

Espanha, quase um Rio de Janeiro de desempregados

Imagine 75% da população carioca sem emprego.
É essa a quantidade de desempregados na Espanha no primeiro trimestre deste ano. Em valores brutos, são 4.612.700 pessoas. Em termos percentuais, 20,05% da população ativa, mais que o dobro da taxa de desemprego dos países da zona do euro, de 10%.
A cifra, divulgada oficialmente nesta sexta-feira pelo Instituto Nacional de Estatística da Espanha, assustou a população, já apavorada com o "paro" (desemprego), e surpreendeu o governo. Isso porque, no fim do ano passado, o presidente José Luis Rodriguez Zapatero garantiu que o índice não ultrapassaria os 20% da população ativa.
Nesta sexta-feira, ante a nova cifra de 20,05% - recorde na última década -, o governo se viu obrigado a reconhecer a gravidade da situação e se apressou a anunciar medidas anti-crise.
Uma delas foi a redução de 32 empresas públicas. O corte, decidido na manhã desta sexta-feira na reunião semanal de ministros, começará nas próximas semanas e significará uma economia de 16 milhões de euros , segundo a ministra de Economia, Elena Salgado. A oposição classificou a medida de insuficiente e pediu uma mudança drástica na política econômica de Zapatero.
Em termos absolutos, os dados mostram que 286.200 pessoas engrossaram a lista de desempregados na Espanha no primeiro trimestre. Desses, 80% são homens, e 60%, jovens.
Na região da Andaluzia (sul da Espanha) e nas paradisíacas Ilhas Canárias, o índice de desempregados passou dos 25%. E, entre os estrangeiros, chegou a 30,9%, uma cifra que preocupa o governo, já que a população imigrante contribui de forma importante para o sistema de Previdência Social, cada vez mais sobrecarregado com o aumento de aposentados e desempregados. Apesar disso, a previdência espanhola continua em superavit.
Veja também e escute aqui.

quinta-feira, 29 de abril de 2010

Espanha escorrega no ranking da S&P, e desemprego passa dos 20% da população

Depois de Grécia e Portugal, foi a vez da Espanha entrar na mira da S&P (Standard & Poor´s), uma das agências de qualificação de risco que ainda sacode os mercados. Na noite de quarta-feira, minutos antes do fechamento da bolsa de Madri, a agência lançou a bomba: um informe que empurrava a Espanha escada abaixo no seu ranking e previa que a economia do país só deve ser refazer da crise junto com a Olimpíada do Rio (sim, 2016).
A queda espanhola no escalão da S&P não foi muito grande: de AAA para AA, categorias consideradas de alta qualidade. Mas o suficiente para derrubar a bolsa e criar uma nova onda de desconfiança de investidores mundiais ante a Espanha e colocar em dúvida a recuperação da economia. Isso tudo em uma semana em que se divulgou que o desemprego ultrapassou os 20% da população ativa do país, mesmo depois de o presidente Zapatero ter garantido que esse índice não aumentaria mais.
A seguir matéria que eu fiz esta manhã para o boletim da RFI, disponível em áudio aqui.

Depois de Grécia e Portugal, foi a vez da Espanha descer no ranking da agência Standard & Poor´s. O país, que há um ano tinha a qualificação máxima, caiu para a terceira posição no ranking da agência, que apontou ainda um crescimento tímido da economia espanhola até 2016. Com a notícia, anunciada minutos antes do fechamento da bolsa de Madri, o Ibex, índice de referência do mercado espanhol, despencou e fechou em baixa de 2,99%, acumulando um negativo de 7% só nos últimos dois dias.

Ainda na noite de quarta-feira, o governo se apressou em acalmar os mercados, qualificando de exagerada a redução da Standard and Poor´s. A ministra de Economia, Elena Salgado, declarou que sua equipe está cumprindo todos os prazos a que se comprometeu para a redução do déficit público, e que a situação logo se acalmará. Já o secretario de Economia, José Manuel Campa, defendeu a credibilidade das contas públicas e foi aos mercados na manhã desta quinta-feira garantir que não há risco nos investimentos do país.

A imprensa espanhola também interpretou a notícia da Standard & Poor´s como pessimista, mas cobrou do governo medidas mais efetivas para alavancar a economia. Já a oposição, liderada pelo PP (Partido Popular espanhol), culpou a equipe do presidente José Luis Rodriguez Zapatero pela avaliação negativa. Ontem, o líder do PP, José Mariano Rajoy, declarou que o presidente alcançou o limite da degradação da economia espanhola.

Apesar da má notícia da Standard ando Poor´s, a bolsa espanhola amanheceu em alta nesta quinta-feira, animada pelos resultados positivos divulgados por algumas empresas espanholas como a Repsol, que elevou seu benefício em 30% no primeiro trimestre do ano. No mesmo período, o banco Santander também incrementou os ganhos em 5,7% em relação ao ano passado, com um lucro de 2,2 15 milhões.
No entanto, até a manhã desta quinta-feira, o Ibex estava 10.375 pontos, abaixo dos 11.190 necessários para recuperar a alta na semana.

No informe em que anuncia a baixa da qualificação da Espanha da categoria AAA para AA, divulgado na noite de quarta-feira, a agência Standard and Poor´s também avalia que a economia espanhola não crescerá até 2016. O prazo é cinco anos mais tarde da previsão do governo espanhol para a recuperação do país.
A notícia deve reformular os planos do governo. No conselho semanal de ministros, nesta sexta-feira, se espera o anúncio de medidas mais duras, como o corte de funcionários públicos.

A ministra da Economia, Elena Salgado, em coletiva para avaliar o anúncio da S&P

segunda-feira, 26 de abril de 2010

Juiz mais famoso da Espanha vira réu, e população vai às ruas em apoio ao magistrado


Baltasar Garzon é um juiz pop. Mandou Pinochet para a prisão, condenou Osama Bin Laden e no ano passado desarticulou a provável versão espanhola da máfia. Tem uma legião de fãs na Espanha, especialmente depois de começar a investigar os culpados pelos crimes da ditadura de Franco.
Em breve, porém, se sentará no banco do réus. E justamente por começar a remexer nos anais do franquismo. Alguns acham que meteu a mão onde não devia, política e juridicamente falando. É o caso de seu colega Luciano Varela, que no início de maio aceitou uma ação de duas associações ultraconservadoras da Espanha, a Manos Limpias e a Falange, alegando que Garzon não tinha competência para tanto. E mais: que, pela lei de anistia espanhola, os crimes da ditadura de Franco, por mais cruéis que tenham sido, estão prescritos.
Desde então, Garzon, que perderá a toga por até 20 anos se for condenado, virou assunto em mesas de bar, editoriais de jornais, salas de aula (inclusive a minha) e tantas outras discussões apaixonadas, tanto a favor quanto contra o juiz.
Neste fim de semana, parte da multidão que o apoia - entre muitos artistas - saiu às ruas em 27 cidades da Espanha. Em Madri, o cineasta Pedro Almodóvar, uma das oposições mais ferrenhas ao franquismo vindas do corpo artístico espanhol, liderou o protesto.
A seguir, matéria da Televisão Espanhola e, em seguida, a que eu fiz para a Radio França Internacional sobre as manifestações:

Miles de personas se manifiestan en apoyo a Garzón




Quase 30 cidades espanholas fizeram manifestações neste sábado em favor do presidente da Audiência Nacional da Espanha, Baltasar Garzón, um dos juízes mais importante da Europa. Famoso por casos em que determinou a prisão do ex-ditador chileno Augusto Pinochet e de Osama Bin Laden, o magistrado acabou se tornando réu no início deste mês. Ele responde por um processo por suposta prevaricação e de ir além de sua competência ao determinar, em 2008, investigação sobre crimes da ditadura de Franco na Espanha.

O processo provocou a revolta de boa parte da população espanhola, que neste sábado, participou de protestos em apoio ao juiz convocados pelo site de relacionamentos Facebook. O principal deles acontece em Madri, onde participam intelectuais e artistas encabeçados pelo cineasta Pedro Almódovar. Também haverá atos em capitais europeias como Bruxelas, Londres e Lisboa e latino-americanas, como Cidade do México e Buenos Aires.

A determinação do Tribunal Supremo da Espanha de tornar Garzón réu no processo detonou debates calorosos na sociedade espanhola. Jornais têm se manifestado abertamente a favor de Garzon, caso do “El País” e até o “New York Times”, e também contra o juiz, como o direitista espanhol “El Mundo”. Uma página do Facebook aberta para apoiar o Garzón já conta com cerca de 190 mil membros. E ontem, o ex-presidente espanhol Felipe González também saiu em defesa de Garzón. Declarou que a sentença contra o juiz é inexplicável e injusta, e disse não achar que houve prevaricação.

A acusação veio por parte de duas associações conservadoras, Falange e Manos Limpias, que entraram com a ação no Supremo Tribunal, uma instância acima da Audiência Nacional, que Garzón preside. O juiz Luciano Varela aceitou o caso.
Se for condenado, Baltasar Garzón pode ser afastado de seu cargo por até 20 anos.

Ontem, porém, o magistrado apresentou um recurso ao Tribunal Supremo que pode representar uma reviravolta no caso. Nele, acusa o colega Luciano Varela de auxiliar as associações direitistas Falange e Manos Limpas na abertura do processo contra Garzón. Pede, por isso, a anulação do processo, mesmo pleito que fazem neste sábado os participantes das manifestações em prol do juiz. O primeiro efeito da medida foi a expulsão do grupo Falange da causa, por supostamente apresentar a acusação formal fora do prazo.

Além de Madri, houve protestos em cidades como Barcelona, Ceuta, Las Palmas de Gran Canárias, Palma de Mallorca, Málaga, Santander, Santiago e Vigo. Também neste sábado, os grupos conservadores que pediram o julgamento de Garzón convocaram outro protesto, perto do ponto de concentração do ato em favor do juiz. Policiais foram convocados para impedir enfrentamentos.

quarta-feira, 21 de abril de 2010

Samaranch, luta anti-doping e o Tratado de Lisboa


O que o Tratado de Lisboa tem a ver com a luta antidoping?
Tudo, para a comissão de esportes da União Europeia. É que o tratado, que entrou em vigor neste ano e dá mais poderes à UE, também permite que os manda-chuvas do bloco determinem, pela primeira vez, o que pode e o que não pode no complexo mundo esportivo europeu.
E uma das primeiras medidas será fortalecer a luta anti-doping, segundo anunciou nesta terça-feira o secretário de Esporte da UE Jaime Lissavetzky, em reunião dos ministros de Esporte dos 27 países da União Europeia hoje aqui em Madri. A ideia, segundo ele, é apertar o cerco aos atletas com mais testes e mais tecnologia.
O anúncio foi feito no mesmo dia em que morreu, em Barcelona, o presidente de honra do COI (Comitê Olímpico Internacional) Juan Antonio Samaranch. O espanhol, que revolucionou as Olimpíadas modernas, é conhecido por impulsionar a luta anti-doping, principalmente durante seu mandato frente ao COI, que foi de 1980 a 2001.
Outra será "baixar a bola" dos clubes de futebol, principalmente os espanhóis, como o Real Madrid, o mais rico do continente europeu. Por isso, anunciou Lissavetzky, vem aí uma reforma da lei espanhola de esporte, que deve limitar os "poderes" atuais dos clubes. "Os clubes têm um papel importante de formação de jogadores, de cedê-los às seleções, mas há que se ter outras formas para que se adequar o que os clubes ganham com o que gastam".

segunda-feira, 19 de abril de 2010

Sinal de fumaça III - Em cima da hora

Os aeroportos espanhóis de Barajas, em Madri, e Réus, em Barcelona, vão receber todos os cidadãos britânicos que estejam fora do país. De lá, serão transportados de barco, trem e ônibus até o Reino Unido.
A informação acaba de ser divulgada pela assessoria de imprensa do Ministério de Fomento espanhol.
A assessoria informou também que houve consenso na proposta apresentada pelo governo espanhol, que preside a União Europeia, para atenuar o caos aereo na Europa. O plano, no entanto, ainda não foi detalhado - o que acontecerá em instantes durante coletiva de imprensa em Madri.
Além dos aeroportos de Madri e Barcelona, os de Pamplona, Victoria e Bilbao, todos no norte da Espanha, vão receber voos com passageiros britânicos que já se encontram em território espanhol. O Ministério de Fomento explicou que, por enquanto, a operação só atenderá a cidadãos do Reino Unido.

Sinal de fumaça II

A partir desta segunda-feira e até a normalização do tráfego aéreo europeu, a Espanha será usada como plataforma de entrada para países do norte do continente, principalmente o Reino Unido. Os aeroportos espanhóis, que permanecem abertos, vão receber passageiros que querem chegar ao norte europeu e redistribuí-los por meio de barcos, trens e ônibus até o seu destino final. Só nesta segunda-feira, a operação deve ser utilizada por cerca de 100 mil pessoas, segundo o Ministério de Fomento espanhol.
A medida, que entrou em vigor as 9h30 desta segunda-feira, foi acordada entre os governos espanhol e britânico. O ministro de Fomento espanhol, José Blanco, que anunciou o acordo, convocou ainda para esta tarde uma reunião extraordinária entre os ministros de Transporte de todos os países da União Europeia para chegar a uma solução para o caos aéreo que se formou na Europa nos últimos dias.
A ideia é que, enquanto a situação não se normalize, a Espanha funcione como porta de entrada do continente europeu. Nesta segunda-feira, o país já receberá passageiros que estão em países da América do Norte e da Ásia com bilhetes para países do norte da Europa.
Os transportes marítimos serão a principal via de conexão, segundo o Ministério de Fomento. O governo britânico anunciou inclusive que vai auxiliar a Espanha nesta operação mobilizando parte de sua força marítima. Já para a conexão terrestre, o governo espanhol fortaleceu as linhas ferroviárias, principalmente com a França. Nesta segunda-feira, a Renfe, empresa que opera as linhas ferroviárias da Espanha, anunciou que já disponibilizou 2.400 lugares extras em seus trens.
Em entrevista à Rádio Espanhola na manhã desta segunda-feira, o ministro José Blanco afirmou que a Espanha está preparada para receber parte dos voos que seriam destinados ao norte da Europa. Mas disse que a situação é variável, porque depende das condições do vento. Na manhã desta segunda-feira, os aeroportos do país funcionavam normalmente, embora com muitas filas e tumulto principalmente em Madri e Barcelona.
A reunião entre ministros de Transporte da União Europeia está prevista para as 15h desta segunda-feira. Nela, caberá à Espanha, que preside a União Europeia, formular uma proposta para dar fim ao caos aéreo na Europa o quanto antes.
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Veja também na Radio França Internacional: http://www.portugues.rfi.fr/europa/20100419-com-aeroportos-abertos-espanha-ajuda-desafogar-caos-aereo

sexta-feira, 16 de abril de 2010

Sinal de fumaça

A tal fumaça do vulcão islandês baixou na Península Ibérica. Os aeroportos espanhóis também cancelaram os voos para os países do norte da Europa. E o Barajas, o aeroporto madrilenha conhecido com a "porta da Europa" vive nesta sexta-feira dia de Guarulhos em tempos de crise área brasileira: está lotado, com gente estressada, sentada e deitada no chão, horas e horas de espera, falta de informação, etc.
A seguir, nota que fiz para a Rádio França Internacional:

O caos aéreo provocado por cinzas de um vulcão na Islândia já alcançou o sul da Europa. Na Espanha, 932 voos mais da metade dos programados a países do norte europeu, foram cancelados nesta sexta-feira, segunda a Aena, empresa responsável pelos aeroportos do país. Todos eles permanecem abertos, mas nenhum está operando voos que chegam ou partem de Paris, Londres, Berlim, Zurich, Dublin e Varsóvia.
No total, os cancelamentos representam cerca de 58% dos 1.600 voos previstos pela Aena nesta sexta-feira entre a Espanha e países do Norte da Europa. Com isso, ao menos 13 mil passageiros, que registraram queixa por telefone à Aen, foram afetados.
No aeroporto de Barajas, em Madri, um dos maiores da Europa, há filas em todos os terminais de check-in e postos de informação. Os corredores estão lotados e muitos passageiros se queixam de falta de informação. Alguns deles relataram à Rede de Televisão Espanhola que esperam mais de seis horas sem saber quando vão embarcar.
A Aena informou que acordou com todas as companhias aéreas para que devolvam o dinheiro dos voos cancelados. A espanhola Iberia, no entanto, informou em nota que apenas trocará as passagens de quinta-feira, 15 de abril, a sábado, 17 de abril, entre cidades espanholas e Paris, Londres, Dublin, Bruxelas, Amsterdan e Copenhague.
Além de Barajas, os aeroportos mais afetados da Espanha são os de Réus, em Barcelona, Palma de Mallorca, Lanzarote, Málaga, Valencia e Alicante. Todos eles, no entanto, continuam em funcionamento.

quinta-feira, 15 de abril de 2010

Madri, capital mundial do mundo virtual


Imagine uma reunião entre 800 jovens selecionados em todo o mundo por suas habilidades com o mundo da informática, que 24 horas seguidas descarregando programas em computadores com capacidade até mil vezes maior que os que temos em casa. Essa reunião não só existe como acontece anualmente. Este ano, aproveitando a presidência espanhola da União Europeia, Madri sedia o encontro, que se chama Campus Party e começa hoje na cidade.
Basicamente, se trata de um encontro de tecnologia e diversão na rede, criada aqui mesmo na Espanha em 1997. Mas, além do troca-troca de downloads e de um sem fim de tendas onde os jovens acampam, os participantes também mostram suas últimas criações. Tendo em conta tratar-se dos 800 "experts" no mundo virtual, dá para imaginar as invenções que sairão dali.
Para acompanhar ao vivo a feira, que vai até o dia 18 aqui em Madri: http://tv.campus-party.org/.

quarta-feira, 7 de abril de 2010

A enchente do Rio vista da Espanha

"Como está sua família?", me questionou uma colega do doutorado nesta tarde assim que entrei na sala. Tardei um pouco para entender o por que da pergunta, até me lembrar que, durante todo o dia, as televisões do país repetiram imagens das enchentes no Rio. O assunto também ganhou destaque nos principais jornais espanhóis nesta quarta-feira.
O "El País", o principal deles (em número de leitores), publicou 13 notícias sobre os alagamentos ao longo desta quarta-feira, entre reportagens, depoimentos de moradores e notícias no site do jornal. No jornal impresso, os dois repórteres enviados ao Rio fizeram um amplo relato, com muitas fotos, de como a "cidade do sol e das exuberantes praias de Copacabana e Ipanema" se transformou em um "aguaceiro de 94 mortos" em algumas horas.
A TVE, emissora do governo que lidera a audiência por aqui, também trouxe notícias e imagens do Rio em todos os telejornais do dia. De tarde, já mostrava reportagem da enviada especial ao Brasil, que percorreu "los barrios de favelas" com sandália rasteira sobre o lamaçal. Entrevistou moradores e, à noite, entrou ao vivo da Barra da Tijuca, "um lugar ainda muito alagado", de onde explicou que os lugares mais afetados eram as "zonas de favelas, construídas ilegalmente nos últimos anos e que são mais de mil espalhadas pelo Rio de 'Rraneiro'". O assunto foi o segundo destaque na seção internacional do principal telejornal da emissora, com matéria que durou 2 minutos e 40 segundos, dentro da uma hora que dura o programa.
No "El Mundo", um dos destaque foi que "nem o Maracanã se salvou do dilúvio", entre as seis notícias que publicou. Em uma delas, o correspondente Luis Tejero relata sua "viagem ao coração do dilúvio", que se limita a depoimentos do prefeito Eduardo Paes e de um taxista, provavelmente o que o levou do hotel a uma das favelas atingidas por deslizamentos, onde também ouviu uma moradora. Ali, interpretou o silêncio de um amontoado de gente ante corpos de moradores soterrados como uma certa frieza de quem, "vivendo como vivem em uma favela, já não se impressionam com nada".
No geral, as notícias e reportagem parecem reproduzir o modelo das coberturas de crises e catástrofes internacionais: muitas imagens e informações de agências, reprodução de discursos oficiais e poucas críticas a eles e com generalizações - como a da repórter da TVE, que explica as favelas como "bairros de infravivenda onde a miséria se combate frequentemente com deliquencia e narcotráfico".
O efeito dessa cobertura, que vem na carona de um interesse crescente da mídia local por causa da disputa pela Olimpíada de 2016, na qual Madri foi a principal rival do Rio pude comprovar ainda nesta tarde, com o comentário da minha colega do doutorado: "o lado bom disso é que agora as autoridades vão enfim resolver o problema das favelas".

segunda-feira, 5 de abril de 2010

Gran Via completa cem anos


Num dia em que se divulgou recorde de mortos nas estradas da Espanha durante a Semana Santa e em que foi encontrado o corpo de uma menina de 13 anos desaparecida há dias em Toledo, a notícia que ganhou destaque em todos os jornais, TVs e sites do país foi uma simples efeméride: os cem anos da Gran Via, a principal rua de Madri e símbolo do modernismo espanhol. Durante toda a manhã, emissoras transmitiram ao vivo a visita dos reis da Espanha à via, cujo centenário foi celebrado hoje.
Digamos que é uma espécie de Champs Elysée e Broadway em uma versão (bem) mais humilde.
Mas a rua, que concentra os principais teatros e cinemas da cidade, também tem seus méritos. Foi lá, por exemplo, que Hemingway escreveu notas de guerra, que se instalou o primeiro Mc Donald´s da Espanha no período pós-franquista e que viveu o pintor Goya - numa das casas, aliás, demolidas nos primeiros anos do século XX para se construir a via, uma das maiores obras urbanas da história do país.
No lugar dos casebres e ruas estreitas, construiu-se uma via larga com uma série de edifícios multiformes, expressão do Art Decó e que contam um pouco da história da arquitetura do país. Na maioria deles, funcionam hotéis da Gran Via, nos quais estrelas de Hollywood se hospedavam quando visitavam a Península Ibérica. Lojas de marca? Estão todas espalhadas pelo 1,3 km da via, símbolo também do capitalismo na Espanha.
Para quem estiver em Madri este mês, há programação especial para comemorar o centenário da rua, com shows, visitas guiadas todos os domingos, exposições e até feira de "tapas" espanholas (tudo em http://www.esmadrid.com/recursos/doc/es/Siempre/Guia/InformacionTuristica/1876568398_313201074132.pdf). Para quem não estiver, dá para ter uma ideia com esta matéria da Agência Efe de notícias:

sábado, 3 de abril de 2010

Espanha entra hoje no apagão analógico


Desde hoje, todas as televisões dentro do território espanhol só funcionam com sinal digital. O que, na prática, significa mais qualidade de imagem e som e mais opções de canais na TV aberta, além da possibilidade de reproduzir o conteúdo das programações em celulares, computadores, etc.
Com a medida, a Espanha se adianta a um acordo da União Europeia sobre a TV digital, que determina o dia 1º de janeiro de 2012 como data limite para que todos os países transmitam o sinal digital.
Claro que ainda existem os chamados pontos de sombra - lugares em que o sinal digital ainda não chegou mas que também já não dispõem da transmissão analógica. Ou seja, nada de televisão para esses moradores. "Minha vizinha não consegue ver nada. Simplesmente não pode ver televisão", disse ontem, indignada, uma moradora de um povoado na região da Galícia, no norte da Espanha.
Mas a Secretaria de Telecomunicações do governo afirmou que ajustará o problema nos próximos dias e que o sinal digital já chegou a 98,7% da população espanhola.
A secretaria diz que o objetivo é nada mais que transmitir programas com mais nitidez e mais opções para os telespectadores, mas há também o lado comercial da história: para receber o sinal digital - a única opção de se assistir televisão hoje no país - é preciso comprar o chamado TDT (Televisão Digital Terrestre), um adaptador para as TV que ainda não são digitais (a maioria nas casas espanholas) e que, na Espanha, já tem nada menos de 30 milhões de unidades vendidas.