quarta-feira, 28 de julho de 2010

Catalunha proíbe touradas

O Parlamento da Catalunha proibiu hoje a realização de touradas em todo o território da região, uma das principais do país. Se trata da segunda região a proibir esta que é, ainda, uma das marcas da Espanha mundo afora.
A medida, aprovada depois de árduos debates (mencionados aqui), é mais simbólica, já que, na prática, a tradição espanhola de esfaquear touros em praça pública já era pouco bem-vinda e pouco exercida numa Catalunha progressista e separatista. Além disso, a medida aprovada hoje só entrará em vigor a partir de 2012 - e os pró-touradas já prometeram muito barulho até lá para tentar reverter a proibição.
Mas o simbolismo da atitude dos 68 deputados catalães que aprovaram o veto - um pouco mais dos 55 que votaram contra - é forte: põe em confronto a nova Espanha, mais aberta ao mundo e a valores como a proteção dos animais, com a velha Espanha, muito apegada às suas tradições. Quem já foi a uma tourada em Sevilha, que tem a praça de touros mais famosa do país, com sessões que atraem uma poderosa elite em traje de gala e com ingressos que beiram os 500 euros, sabe que, se essa medida significa uma mudança, ela não será fácil.
A briga, que já começou nas primeiras horas após a sessão do Parlamento, promete ser boa. Oposição, associações, organizações não-governamentais, amantes da prática e até filósofos já entraram nela. Sinal de que muita discussão vem por aí.

domingo, 18 de julho de 2010

A semana do dissidentes cubanos em Madri


Madri é mesmo eclética. Um dia depois de receber os campeões da Copa, outro avião muito esperado aterrissou na cidade, mas, desta vez, trazendo dissidentes cubanos do governo de Raúl Castro à Espanha. Eram sete, e formavam a primeira leva dos 52 presos políticos que Castro concordou em libertar nos próximos quatro meses, em acordo com a igreja mediado pelo governo espanhol, que ofereceu o acolhimento dos ex-presos.
Ao longo da semana, outros dissidentes libertados foram aterrissando em Madri. Até agora são 11, mas na próxima terça-feira devem chegar mais nove.
Apesar de libertados, esses cubanos _que trouxeram a família a tiracolo_ têm reclamado bastante da rotina "tutelada" em Madri. Isso porque não sabem para onde vão _o governo espanhol enviará cada família a uma cidade distinta do país_, não sabem aonde trabalharão _tarefa difícil em um país com mais de 20% de desempregados_ e muito menos qual será seu status_ a Espanha quer dar-lhes a condição de imigrantes com "proteção subsidiada", mas os cubanos querem ser refugiados políticos.
Além disso, foi muito polêmica a hospedagem que o governo arrumou para os cubanos: um albergue de beira de estrada no meio de um polígono industrial em um dos subúrbios de Madri. Lá, eles foram alojados em quartos pequenos compostos de camas individuais e quatro lockers e banheiros compartilhados por andar.
No mais, a grande discussão por aqui tem sido se essa libertação representa de fato uma mudança no governo do Cuba em direção ao maior cumprimento dos direitos humanos _o que a maioria deles acha que não, ou se é simplesmente uma jogada de interesses tanto por parte da Espanha, que quer mostrar um protagonismo na Europa e na América Latina, quando da própria Cuba, interessada em abrandar bloqueios econômicos internacionais e, com isso, sua crise econômica.
Aqui, deixo o link para algumas matérias que fiz sobre o caso esta semana, relatando a chegada dos presos, o limbo que enfretam em Madri, os relatos da rotina na prisão, as críticas ao presidente Lula e até a confissão de que viam novela da Globo da prisão!

terça-feira, 13 de julho de 2010

A chegada da seleção em Madri

"Bem-vindos a uma Espanha mais feliz." A frase, numa grande faixa no aeroporto de Madri, foi a primeira homenagem que os campeões da Copa receberam na volta para a casa, onde tiveram tratamento de autoridade.
O time ganhou cumprimentos do rei Juan Carlos 1º e da família real, encontrou-se com o presidente José Luis Zapatero e foi ovacionado por mais de um milhão de pessoas, que bloquearam as principais ruas da capital.
A frase ainda resume como o título da Copa vem sendo usado como válvula de escape para a crise econômica, política e até social em que a Espanha está mergulhada.

"Esta vitória é um bálsamo durante um tempo. Permitirá que fiquemos mais contentes e unidos, ainda que dure só uma semana e as pessoas depois se lembrem de que têm que pagar a hipoteca ou buscar trabalho, como eu", disse o historiador Antonio Hernandez, 24, que está desempregado há seis meses.
Ontem, ele tirou "folga" para ver o desfile do time em Madri, em maratona que começou às 14h30, no horário local, e foi até a madrugada.
Após a chegada a Barajas, em avião da Iberia pintado de amarelo e vermelho, o time foi ao Palácio Real de Madri. Lá, como chefes de Estado, os atletas foram recebidos pela família real: o rei Juan Carlos 1º e a rainha Sofia em primeiro plano, seguidos dos príncipes e do resto da família. "Vocês são exemplo de esportividade, de comportamento", disse Juan Carlos.
Já Zapatero, que vive sua maior crise de popularidade, tentou capitalizar no Palácio de Moncloa. Ele ergueu a taça e pulou com a seleção, em cerimônia que, por ordem sua, foi vista por plateia composta só por funcionários públicos e seus familiares. Mas, no discurso, ouviu vaias e pedidos de "Vicente [del Bosque, técnico] presidente".
De terno e gravata, Del Bosque, conhecido por ser frio, sorria muito e acenava para a "plateia", termômetro para o que viria em seguida -a multidão, calculada pela polícia de Madri em pouco mais de um milhão de pessoas, que assistiu ao desfile em carro aberto da seleção.
Além das bandeiras e de bonecos do polvo Paul, o meia Iniesta, autor do gol do título, foi muito festejado. "Minha geração é descrente da seleção, mas neste ano surpreenderam, e Iniesta é exemplo disso", dizia, entre lágrimas, Estanislau Millan.
Desempregado, ele pôs mulher, filha e sobrinhos no carro e dirigiu mais de 500 km para ver o ídolo.
Tímido, Iniesta iniciou os festejos se escondendo. Depois de mais de quatro horas de desfile -encaradas pelos atletas com latas de cerveja- , a maratona acabou em show a céu aberto com a seleção no palco. E com Del Bosque, enfim, sem terno.

quarta-feira, 7 de julho de 2010

Começam hoje as corridas de touro mais famosas da Espanha


Milhares de pessoas na Espanha se vestem hoje de vermelho e branco. E não é (só) por causa do jogo de sua seleção, mas pelo início das festas de San Fermin, em Pamplona, aquela das famosas corridas de touros, que são soltos em ruas estreitas com multidões.
Até a manhã desta quarta-feira, o saldo da festa é de dois jovens feridos. Eles participavam da primeira sessão das corridas, que é considerada festa de interesse nacional na Espanha mas ganha cada vez mais opositores no país.
Neste ano, as corridas de Pamplona, que são as mais famosas do país e acontecem em "comemoração" ao dia de San Fermin, teve a segurança reforçada para evitar mortes causadas durante o evento, como o que ocorreu no ano passado, quando um espanhol morreu depois de ser corneado por um touro.

Os feridos deste ano, segundo os organizadores da festa, são um espanhol de 20 anos, que sofreu contusão ocular, e um australiano de 18 anos, internado com contusões múltiplas. O hospital de Navarra e da Virgen del Camino, onde estão internados, ainda não divulgou o estado de saúde.
As corridas de touro de Pamplona, que acontecem desta quarta-feira até o próximo dia 14 de julio, são acompanhadas de muitas festas nas ruas da cidade, que atraem milhares de pessoas de todo o mundo.
Muitas delas, segundo a organização do evento, participam da corrida de touros sem preparação e, por isso, acabam feridas. A prefeitura de Pamplona distribuiu este ano uma cartilla com recomendações de segurança, como não participar da corrida embriagado ou sem preparação, não encostar nos touros nem destraí-los com barulho. A cartilha admite que há “mortes ocasionais” na festa – até agora, foram 15.
Mas grupos contrários às corridas, que são cada vez mais numerosos na Espanha, afirmam que as mortes ocorrem por se tratar de uma prática antiquada. A ONG Peta, uma das mais ativas contra o movimento das corridas de touro, chama a tradição de “um resquício brutal de barbárie da sociedade espanhola”. Em um estudo, afirmou que cada família do país gasta em média 47 euros ao ano com impostos destinados a subvencionar festas com touros.

sábado, 3 de julho de 2010

Espanha entrega presidência da UE

Em meio a uma crise econômica, política e até social, a Espanha entregou nesta quarta-feira a presidência rotativa da União Europeia. Depois de seis meses no comando, que passa agora à Bélgica, o país ibérico contabiliza alguns erros e acertos desta que foi a sua quarta gestão à frente do bloco, a primeira depois da entrada em vigor do Tratado de Lisboa.
Um novo governo econômico para a União Europeia foi o principal legado da presidência espanhola, na avaliação que o ministro de Assuntos Exteriores do país, Miguel Angel Moratinos, fez ao entregar o balanço da gestão, na noite desta quarta-feira em Madri.
Mas o governo de José Luis Rodriguez Zapatero também deixou alguns buracos nesta gestão, que a imprensa do país classificou esta semana de “tormentosa”. Foi o caso do cancelamento das cúpulas com os Estados Unidos e com países do Oriente Médio, por não dar as bases para um acordo de paz na região. A Espanha também não conseguiu fazer com que seus sócios europeus decidissem sobre uma eventual reabertura do diálogo diplomático com Cuba, um dos objetivos desta gestão. Mas celebrou a volta das conversas para um acordo de livre comércio com o Mercosul.
A crise econômica, no entanto, foi a grande protagonista do turno espanhol à frente da União Europeia. Neste período, a economia da Grécia quase afundou e o euro passou pelas maiores perdas desde sua criação.
O secretario espanhol para a União Europeia, Diego López Garrido, reconheceu que contornar as turbulências europeias foi uma das maiores dificuldades. “Chegamos à beira do abismo, mas conseguimos com isso demonstrar a fortaleza da Europa”, disse Garrido na segunda-feira, após reunir-se com seus homólogos da Bélgica e Hungria. Os três países dividem um turno de um ano e meio da presidência do bloco.
No plano interno, o período também foi conturbado para o país, que conheceu sua pior taxa de desemprego desde a reabertura econômica, de mais de 20% da população economicamente ativa. Nas últimas semanas, enfrenta uma série de manifestações e greves – uma delas nesta quarta-feira, do metrô de Madri – por causa do plano de ajuste fiscal anunciado por Zapatero em maio. Se acalmou os mercados e os sócios europeus, o plano significou internamente o fim da chamada paz social que a Espanha conseguia manter até então.