terça-feira, 5 de janeiro de 2010

Espanha tem o dobro da taxa de desempregados da UE


Desemprego. Esta foi a palavra de 2009 na Espanha. Desempregado (ou "parado", no castelhano), o personagem do ano, eleito inclusive pela última edição dominical do "El País" de 2009.
Hoje saiu o número total de desempregados em 2009 por aqui: 3.923.603, quase 20% da população economicamente ativa, divulgou o Ministério do Trabalho e Imigração. O que isso significa?
Basta dizer que essa taxa é mais que o dobro da taxa média de desemprego da zona do euro (países que já adotaram o euro como moeda), de 9,8%, segundo a Eurostat, o "IBGE" da União Europeia.
Há muitas explicações para esse quase um quinto da população economicamente ativa sem trabalho, e uma delas é o fato de a economia espanhola ter passado por uma arrancada no final da década de 90, com forte caráter especulativo, o que, por consequência, fez o país ser um dos mais afetados com a crise financeira.
A construção, setor que responsável pela tal arrancada da economia e sua posterior frenada, teve o maior índice de aumento de desempregados (7,5%, ante dezembro de 2008).
E as perspectivas para 2010 não são muito boas. O El País opinou no domingo que os empregos continuarão a cair pelo menos até o terceiro trimestre deste ano, quando, possivelmente, a curva de empregos deve voltar a subir. Hoje, com o balanço do Ministério do Trabalho, sentenciou: "nenhum outro país sofreu um deterioro tão intenso do mercado laboral" em 2009.
Esse deterioro foi visível em 2009 no dia-a-dia, além de um duro golpe para o "spanish way of life", que, nos hábitos laborais, é bem relaxado (basta dizer que as duas horas de siesta diária ainda são religiosamente respeitadas pela a maioria das empregadoras).
Agora, o que acontece em um país desenvolvido quando muita gente fica desempregada? Resposta: muita gente recebe o benefício do seguro-desemprego, que, por aqui, pode ser bem generoso (comparado, claro, com a realidade brasileira). O resultado foi também um baita prejuízo para o sistema de Previdência Social - que, no entanto, segue em superavit, ou seja, gerando mais recursos que gastos.
É aí que entra o peso da contribuição dos imigrantes para a economia do país, que, como seus vizinhos, tem uma população cada vez mais envelhecida. Mas agora não cabe muito entrar no tema da imigração - vamos entrar nele num próximo post.
Claro que, no dia-a-dia, as pessoas apertaram os cintos, muitos foram demitidos e tal, mas continuam comprando, investindo, trabalhando, ou seja, tendo uma vida mais ou menos normal. Amanhã, passado o dia de Reis Magos - que é quando se trocam presentes aqui - começam as grandes liquidações de inverno, as "rebajas", aquelas com a típica cena das pessoas amontoadas na porta de grandes cadeias de lojas e correndo em direção às prateleiras no primeiro minuto de suas aberturas.
No nível político, a oposição cobra reformas que tornem o mercado de trabalho mais fixo e menos temporário (uma forte característica deste mercado na Espanha) e o governo lançou, no fim de novembro, a chamada Lei de Economia Sustentável, com medidas como redução de entraves burocráticos para abertura de empresas, suspensão de dedução fiscal de lares e, em resumo, tornar a economia espanhola mais dinâmica.
Mais que os números apresentados hoje, essa catarse coletiva em busca dos melhores preços de fato será um dos melhores indicadores para avaliar se o desemprego e a crise já "tocaram fundo", como se diz por aqui.

4 comentários:

kitty disse...

Luli, ótima idéia, ótimo blog!
É bom saber dos "detalhes íntimos" do país que se está morando para melhor poder usufruir da temporada, não?
Continue nos mantendo informados...
bjs

Natália Vaz disse...

Nossa, Luisa. Muito legais os seus textos. Muito legal também o seu post no blog da Estela. Também sou jornalista e vou para a Europa neste domingo, aprender o francês e tentar exercitar meu "olhar de fora". A diferença é que eu sou recém formada e troquei uma coontratação pela viagem. Espero muito descobri que fiz certo, assim como você descobriu. =) Boa sorte pra você com seus frilas e com o curso, que parece ser bastante interessante.

Lu disse...

Oi, Luisa, também sou jornalista e vivo na Espanha. Vi seu depoimento no blog da Ana Estela e me interessei por esse curso que você fez (Informação Internacional...). Qual a instituição que oferece o curso? Bgda

Luisa Belchior disse...

Oi Luciana,
O curso se chama Información Internacional y Países del Sur, da Universidad Complutense de Madrid (www.ucm.es). No site, procura por títulos proprios. Qq dúvida me diz que eu te passo o email direto do pessoal de lá.
bjs!