terça-feira, 12 de janeiro de 2010

É proibido fumar. Ou melhor, será


O espanhol fuma. Muito. É uma das suas principais características: a de ser fumante. Um típico bar ou café espanhóis nunca serão típicos sem a fumaça estocada de cigarro, a qualquer hora do dia - antes das 10h, por exemplo, os cinzeros das cafeterías já estão cheios de pontinhas.
Daí que se pode imaginar o rebuliço que vem provocando uma proposta de lei do governo de proibir o fumo em lugares públicos fechados (ou seja, quase todos os bares e restaurantes, considerando que o frio na maior parte do ano limita a parte aberta para o verão).
A medida, chamada por aqui de Ley Antitabaco, é a grande bandeira do ano do Ministério da Saúde e o novo grito de guerra da titular da pasta, Trinidad Jimenez, depois de muitos meses repetindo o discurso preventivo ante a Gripe A. A cada reclame da oposição sobre a anunciada proibição, Jimenez retruca afirmando que a medida será aprovada com certeza neste ano.
Aprovada ou não, a medida - diga-se, um sinal dos "novos tempos" numa sociedade ainda marcada pelo tradicionalismo e pelo nacionalismo, que muitos identificam como herança franquista -, não vai passar sem muita discussão.
Além da oposição, que condena o "autoritarismo" da medida, o governo já vem enfrentando a fúria do setor hoteleiro e de restaurantes. Esta semana, a Federación Española de Hostelería y Restauración pôs a boca no trombone. Divulgou que nada menos de 40 mil estabelecimentos terão que fechar as portas ainda em 2010 se a medida for aprovada, o que provocará a perda direta de 100 mil postos de trabalho, segundo declarou a vicepresidente da ferederação, Gaieta Farràs, à agência de notícias Europa Press.
Em Madrid, quem entra em qualquer restaurante ou cafetería consegue ter uma dimensão da revolução que a proibição vai causar. Isso para não falar da vida noturna, que é movida à fumaça, de cigarro, claro.
Mas o governo local, controlado pelo PP (Partido Popular) e, portanto, de oposição ao governo socialista de Zapatero, já bateu o pé contra a proibição, que chamou de autoritária e irreal.
A população, segundo uma pesquisa divulgada no domingo, está dividida. A pesquisa Clima Social de Metroscopia, divulgada no início desta semana, dá conta de que 56% da população apoia a aprovação da lei.
Ainda não há data prevista para a votação da proposta, mas todas as vozes do governo socialista afirma que de 2010 não passa.
Se assim for, será o segundo "sinal dos novos tempos" sobre a fumaça espanhola. O primeiro veio em 2006, quando o cigarro foi proíbido em aeroportos(sim, isso quer dizer que até 2006 os espanhóis fumavam tranquilamente pelos corredores de Barajas, um dos maiores aeroportos europeus), shoppings e em alguns restaurantes e bares . Os (muitos) que continuaram permitindo a fumaça tiveram que colocar uma plaquinha na porta, como este: .
Desde então, é para lá que os fumantes, mais de um quarto da populaçao espanhola, segundo o Barômetro do Centro de Investigações Sociais do governo, correm desde então. A partir de 2010, seu destino é uma incógnita.

3 comentários:

Cris disse...

Em tempos de rebuliço com as leis antifumo brasileiras, isso bem que dá uma pauta, né =)
E tenho que dizer que, como antifumante que sou, aprovo essas leis.
bjos

Marcelo Paes disse...

Oi Luisa,
Li sua experiência no blog da Ana Estela e resolvi te escrever porque também moro no exterior, em Paris, há 3 anos e tenho tentado (com mais ou menos firmeza) frilar daqui para órgãos brasileiros.. Ao contrário de você, não tenho muitos contatos prévios nos jornais e revistas brasileiros, mas ja fiz algumas coisinhas para a Rolling Stone Brasil e para revistas de turismo. Como costuma ser seu approach para essas situações? E se é que posso perguntar, você tem algum contato na Radio France? Tinha alguns aqui em Paris, mas as pessoas foram embora.. Obrigado desde já e parabéns pelo blog!
;-)

cristina mosk disse...

Corajosa, essa ministra da saúde. Tomara que a lei seja aprovada porque me impressionou e intoxicou muito quando estive aí a quantidade de fumantes em recintos fechados. No Rio também teve muita reclamação quando aprovada, no entanto, hoje todos respeitam e acatam