segunda-feira, 15 de março de 2010

A Espanha "terceiro-mundista"


O mundo desenvolvido também tem apagão. E com neve. E que dura uma semana. É esse o tempo que moradores da Catalunha, umas das regiões mais ricas da Espanha, estão sem energia elétrica - e, logo, sem calefação -, por causa da queda de uma das torres de alta tensão que cortou o serviço para nada menos que 220 mil pessoas, segundo contabilizou o governo local.
Desde a última segunda-feira, quando uma inesperada nevada, atípica para as vésperas da primavera, atingiu a região da Catalunha. Nada que deveria assustar, no entanto, uma região com um dos maiores PIBs per capita da Espanha - 27.814 euros, acima da média nacional, de 23.874, e até da europeia, de 25.100, segundo o Instituto Nacional de Estatísticas espanhol.
Mas uma suposta má gestão local combinado com a dependência quase que total de energia de outras regiões - quase 90%, segundo o jornal El País - não só assustou como deixou os moradores de várias cidades sem luz, sem energia e, principalmente, sem calefação.
A solução? Fazer fogueira, como mostraram durante toda a semana os telejornais do país. Escolas cancelaram aulas, bancos e comércios fecharam. A economia local ainda contabiliza os prejuízos.
"Isso é totalmente 'terceiro-mundista'. É inaceitável", protestou uma moradora de Girona em entrevista à CNN espanhola, resumindo o sentimento da população local ante o que se pode interpretar como uma demonstração da falência do Estado de Bem-Estar Social que a Europa tenta sustentar, mas que se mostra cada vez mais fraco. Sobretudo em uma Espanha mergulhada na crise e que, segundo anunciou também esta semana a OCDE (Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico) será o último país europeu a sair da crise, junto à Islândia.
Mas, ao contrário de boa parte da população "terceiro-mundista", que sabe que apagão é questão de tempo e desconhece o tal Estado de Bem-Estar Social, o povo da Catalunha foi às ruas protestar, como se pode ver aqui. Durante toda a semana, moradores foram em massa a assembleias com prefeitos de suas cidades para cobrar ação da Endesa, que administra o fornecimento de energia para a região. A companhia informou nesta segunda-feira que o serviço já está quase 100% normalizado.
Nesta segunda-feira, o "El País" noticiou, no entanto, que cerca de três mil pessoas continuavam sem energia e imersos na aparentemente crescente dimensão "terceiro-mundista" do Primeiro Mundo.

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